Até os médicos admitem essa história mas surgiu no jargão popular o termo “visita da saúde”. É assim que as pessoas se referem a um doente que, à beira da morte, tem uma melhora quase sempre anterior ao óbito.
Por isso, só os parentes e amigos desinformados comemoram o súbito bem-estar do moribundo, achando que vai ficar bom. Os mais experientes, se preparam para o velório.
Desde que começou a enfrentar as crises por ela própria criadas, a presidente Dilma ainda não conseguiu receber a visita da saúde, mesmo em se tratando de um alívio passageiro, anterior à debacle, mas não se pode negar que a presidente tem feito esforço em busca de melhoras.
Em geral, tem dado com os burros n’água, como tem acontecido com todas as ações que realiza, mas permanece tentando. Na semana passada foi a vez de improvisar mais um socorro ao receber em Palácio líderes de nove partidos da base aliada com um manifesto defendendo seu mandato.
Dilma escolheu para recolher assinaturas de apoio ao manifesto a presidente do PCdoB, deputada federal Luciana Santos, partido que tem somente 10 deputados federais, a única bancada verdadeiramente fiel a ela, o que é mais um sintoma do seu isolamento.
O PT, partido da presidente, assinou o manifesto através do presidente da sigla, Rui Falcão, mas preferiu ficar caudatário. Com 69 deputados, o PT sem dúvida deixaria sua musa melhor na fita do que representada por um dos menores partidos da Câmara.
A deputada Luciana Santos até se esforçou envergando um vestido verde bem talhado ao invés das habitués roupas descoladas e apareceu sorridente ao lado de Dilma, em providencial apoio feminino, mas o tiro saiu pela culatra.
A volta da CPMF fez com que a “visita da saúde” ficasse em segundo ou terceiro plano no noticiário e a oposição cuidou de enodoar o que se imaginava viesse a ser uma grande jogada de marketing.
Ao mesmo tempo em que o Planalto deixou escapar que os 9 partidos signatários do manifesto têm 301 deputados federais, a oposição vazou a informação de que já tinha conseguido mais de 300 apoios de deputados ao andamento de processo de impeachment. O próprio Planalto, através das fontes que abastecem os jornalistas, só conta com o apoio certo de 200 deputados a Dilma.
Como um governo com baixa popularidade é traído por todos os lados a realidade mostrou que, embora os líderes, por dever de ofício, tivessem se manifestado, a base, por debaixo dos panos, se prepara para a traição, a depender do clima que se instalar no momento da discussão.
Como a Presidente está numa fase de atração de problemas, além dos que já enfrenta, esta última “visita da saúde” não passou de tentativa.
Pelo contrário, ajudou a fazer crescer a convicção de que o mandato de Dilma está mesmo por um fio. Nem manifestação de apreço está valendo mais.
Quando a visita da saúde verdadeiramente chegar é possível que o impeachment já se encontre equacionado e – quem sabe – a própria renúncia, muito menos traumática, para a presidente e para o país, do que a expulsão do cargo.