Opinião

“Empulhações elétricas”, análise do ITV

O chamado “risco hidrológico”, gasto extra comum em épocas de seca para garantir o abastecimento, será discriminado nas contas a partir do dia 5

O governo petista não aprende mesmo. Depois de toda a lambança promovida no setor elétrico, que resultou num dos maiores tarifaços da história e na desestruturação completa de um dos segmentos de infraestrutura mais fundamentais para o país, volta a fazer proselitismo político e prometer, novamente, redução nas contas de luz. Só quem não conhece é que compra.

A promessa agora é baixar a bandeira tarifária, cobrada desde março em razão de repasse de custos explosivos com a geração de energia por meio de usinas termelétricas para os consumidores. Na melhor das hipóteses, as faturas receberiam um alívio de R$ 1,10 a cada 100 kWh consumidos. A hipotética redução ainda será objeto de análise pela Aneel.

A média de consumo residencial no país encontra-se atualmente em 153 kWh por mês. Isso significa que, se realmente o custo da bandeira baixar nos percentuais prometidos pelo governo (até 20%), a fatura média paga pelo consumidor brasileiro cairá R$ 1,68. No frigir dos ovos, a queda seria de mais ou menos 1%.

Com isso, o governo se animou a vir a público dizer que “o Brasil começa a entrar novamente em um ciclo de redução de tarifas”, como afirmou o ministro Eduardo Braga, ao lado da presidente da República, na cerimônia de lançamento do Programa de Investimento em Energia Elétrica nesta semana. Pera lá!

Basta fazer as contas para ver que o governo não devolve com uma mão nada do que surrupiou com a outra. Desde janeiro de 2014, as tarifas residenciais de energia ficaram 73% mais caras no país, segundo o IBGE. Em alguns casos, mais que dobraram nos últimos dois anos. Ou seja, é no mínimo zombaria o governo vir agora dizer que começa a reduzir as explosivas contas de energia dos brasileiros.

Igualmente jocosas foram as manifestações da presidente sobre o tarifaço em marcha – apenas nos primeiros sete meses de 2015, a alta da energia residencial no país é de 48%. Dilma voltou a culpar a falta de chuvas e chegou ao desplante de dizer que, não fossem as mudanças resultantes da MP 579, as tarifas estariam ainda mais altas.

A presidente simplesmente omite que parte relevante da conta que chega hoje aos consumidores – que torna a vida dos brasileiros ainda mais árdua e piora as condições de competitividade das empresas – decorre da intervenção intempestiva e eleitoreira patrocinada por ela no setor em 2012, a fim de baixar as tarifas na marra. O desarranjo deixou uma conta de, pelo menos, R$ 114 bilhões que ora vem sendo paga pelos consumidores.

Imaginava-se que o petismo houvesse aprendido com a crise que ele mesmo eletrizou no setor de energia, depois de ter prometido baixar as tarifas e ter colhido uma alta de custos sem precedentes. Mas não. Bastou surgir uma nova oportunidade para que o governo reincidisse em suas fantasias, sempre tendo o povo como principal vítima de suas empulhações.