Opinião

“A importância do Negro e da Mulher na América Latina e no Caribe”, por Dell Santos

Dell-Santos-300x300.jpgQuando pensamos em América Latina poucas vezes temos a exata ideia das proporções e da variedade de nosso amado continente. É praxe pensar na Bolívia e no Peru como pátrias predominantemente indígenas, mas poucas pessoas sabem do peso que teve o negro na formação étnica de países da América Latina além de Cuba, da Jamaica, do Haiti e do Brasil.

É inegável que a República Dominicana conta com um contingente negro majoritário, e os mais entendidos em música sabem que é justo ao negro dominicano que se atribui a origem do merengue. Países como a Colômbia e a Venezuela também contam com o negro como um componente expressivo em sua formação étnica e cultural. Em algumas regiões da Colômbia, como o Caribe Colombiano, o negro chega a ser maioria, e elementos notadamente negros, como a musicalidade e a religiosidade nagô, são fundamentais na formação do caldeirão cultural que é a Colômbia. É interessante notar, também, a força que tem a presença negra em sociedades como a peruana e a equatoriana. Embora seja minoria nesses países, o negro é uma minoria expressiva, uma minoria que marca presença culturalmente, mais ou menos como ocorre nos Estados Unidos. O negro peruano contribuiu para a música do país de forma marcante, e a música afro-peruana é de notável beleza.

Quando se fala do Caribe, então, parece redundante ter que mencionar a presença negra. Espanhóis, franceses, ingleses e holandeses irrigaram o mar do Caribe com o sangue dos escravos africanos, e esse mar, segundo dizia García Márquez, é um território único, como se fosse um único país. O negro, indubitavelmente, contribui sobremaneira para esse aspecto singular caribenho e, conforme García Márquez, surreal como sua própria literatura. O escritor colombiano assegurava que grande parte da inspiração para seu surrealismo nascia do misticismo do povo caribenho. Arrisco dizer que esse misticismo está relacionado com a herança da religiosidade nagô, a crença dos povos do oeste africano trazidos do além-mar.

Faço questão de frisar, aqui, que na minha concepção o Caribe não deveria ser diferenciado da América Latina. Sinto como algo irrelevante se povos como o jamaicano falam línguas de origem não latina. Na minha sincera opinião, jamaicanos, bahamenses e caribenhos em geral são muito mais próximos culturalmente dos latinos que dos norte-americanos ou canadenses, e penso que o negro tem papel fundamental nessa proximidade cultural entre Caribe e América Latina.

Cabe ressaltar que o negro vem sendo negligenciado nos assuntos atinentes ao nosso continente. Deveríamos aprender a valorizar o componente negro da formação de nossa cultura. Nomes como Célia Cruz, Harry Belafonte, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan, Grande Otelo e outros podem ajudar a criar um elemento arregimentador, aglutinador da cultura negra latina, entre todos os nossos países, para que um país pudesse aprender mais sobre a negritude dos países vizinhos. Emocionou-me muito ver a Velha Guarda da Portela cantando junto com Compay Segundo e o Buena Vista Social Club.

Por último, é inevitável dizer que a mulher deve necessariamente ser mais valorizada em nossas culturas. Ao passo que em países mais ricos a mulher conquista mais espaço com um pouco mais de celeridade, países em desenvolvimento como os latinos ficam a reboque quando a questão é a igualdade de tratamento entre gêneros. Ações culturais de enfoque ao negro e à mulher, em especial à mulher negra, são primordiais em nosso continente, e a atitude do vereador Andrea Matarazzo  deve ser, nesse sentido, prestigiada e enaltecida.

Esperamos viver dias em que a mulher e o negro, e em especial a mulher negra, tenham o devido reconhecimento no nosso amado continente.

*Dell Santos é Coordenadora de Eventos do Secretariado Municipal de Mulheres PSDB MULHER e 2ª vice-presidente do TUCANAFRO municipal PSDB SP.