Durante 10 dias, lideranças mundiais estiveram reunidas em Nova Iorque (EUA) para discutir temas sobre a igualdade de gênero, políticas e resultados alcançados nesta área. A Conferência Sobre Mulher, que teve o apoio da ONU, avaliou o que de fato mudou 20 anos após a elaboração do documento de Beijing, com metas sobre erradicação da violência, empoderamento da mulher na política, na economia e na sociedade. O PSDB Mulher participou dessa conferência, representado pela 2ª vice-presidente do Secretariado Nacional e presidente do PSDB Mulher SP, Nancy Ferruzzi Thame. Com ela esteve a presidente licenciada do PSDB Mulher SP, Almira Garms.
Depois das plenárias com chefes de estado, ONGs e demais representações mundiais que atuam pela igualdade de gênero, Nancy relata nesta entrevista o que trouxe como desafio para a atuação do Secretariado da Mulher do PSDB, que tem participação na origem do que hoje é a Secretaria de Políticas da Mulher, com a atuação da socióloga Ruth Cardoso, durante o governo FHC.
PSDB Mulher – O que esta experiência pode trazer de novo para o trabalho aqui no Brasil pelo Secretariado da Mulher do PSDB?
Nancy Thame – Temos muito a comemorar 20 anos após Beijing. Quase todos os países desenvolveram leis que amparam as mulheres rumo à igualdade, também o Brasil. Cresceram o interesse e a visibilidade sobre o feminismo. Isto é muito importante, pois a demanda das mulheres inclui este entendimento.
É interessante que o movimento hoje é democrático e não mais orgânico. É uma força que está nos movimentos sociais.
A oportunidade de estar nesta conferência com mulheres de diversos países, trouxe a percepção mais acurada da luta coletiva. Apesar das diferenças, passamos pelos mesmos conflitos, em diferentes intensidades. A visão global nos traz definições de ações locais. Acredito que o Secretariado tem que buscar mais alianças, temos que atuar além do partido. Há demandas urgentes como o das mulheres se identificarem feministas, entenderem o termo e a importância desta compreensão. Há muita diversidade no movimento das mulheres.
Acredito que no Secretariado teríamos que trabalhar em alguns pontos principais, que são conceitos e capacidades estratégicas; fortalecer e manter a autonomia, apesar das alianças; investigar leis e pontos de mobilização do movimento de mulheres; articular as demandas, mesmo que pontualmente; buscar espaços públicos alternativos para o avanço.
PSDB Mulher – Que temas achou mais afins com a problemática brasileira de gênero? Por quê?
Nancy Thame – Todos os temas nos atingem em maior ou menor intensidade. No entanto sabemos que alguns deles são emergenciais, como, a maior participação da mulher nos espaços de poder e decisão, tanto dentro dos partidos políticos, como nos cargos eletivos. Somos sub-representadas e invisíveis. Pior do que isto, muitas vezes as eleitas não defendem as causas feministas;
Violência contra a mulher é o tema e é vasto, é preciso intensificar medidas que enfrentem esta violência não só da mulher, mas de gênero. Temos de trabalhar a ideia de uma masculinidade mais libertadora. Este tema está intimamente ligado aos dois primeiros. O empoderamento econômico com equiparação salarial para mulheres em mesmo cargo e com mesma função também é prioridade, assim como a mídia sem discriminação, pois esta é responsável em grande parte pelo fortalecimento de preconceitos oriundos de uma sociedade machista e patriarcal.
PSDB Mulher- Esta conferência teve o intuito de avaliar o que se conquistou em 20 anos, desde Pequim. O que de fato foi vencido e o que mais desafia o Brasil, trazendo para a nossa realidade em termos de igualdade?
Nancy Thame – Não há dúvida quanto aos avanços principalmente na questão da legislação, visibilidade do movimento e alianças ao redor do mundo. Há também a conquista do fortalecimento das Instituições e sociedade civil, sendo que hoje o movimento feminista é orgânico, com raízes em toda a sociedade.
Citaria três grandes desafios: a participação das mulheres com preservação de sua autonomia nos espaços de poder e decisão, principalmente nos cargos eletivos, a equiparação salarial e o enfrentamento à violência.
PSDB Mulher – O empoderamento passa, antes de tudo, pela superação de problemas crônicos como o da violência. Agora temos um aditivo a esses crimes, que também acontecem na internet, como a conferência abordou com relevo. O que você viu e ouviu sobre isso nas plenárias e nos relatos de mulheres de outros países que participaram?
Nancy Thame – Os temas mídia e mídias sociais foram muito debatidos durante a conferência. É perceptível a discriminação, a incitação à violência e a desvalorização da mulher na mídia. É preciso criar mecanismos, consciência dos movimentos organizados e pressão para que estes problemas sejam minimizados.
PSDB Mulher – Por que países como África nos superam em participação da mulher na política? Como mudar esta realidade?
Nancy Thame – As mulheres da África são muito unidas, passam por muitas dificuldades e são decisivas na preservação da vida e dos valores.
Há casos como o de Ruanda onde, após uma guerra civil, houve uma diminuição acentuada da população masculina. As mulheres assumiram o poder e são maioria no parlamento.
Elas se colocam a frente dos movimentos.
Tivemos numa reunião de Gana, por exemplo, onde a condução foi feita por uma ministra daquele país e no próprio evento fortaleceram o nome de uma participante para presidente do país.
PSDB Mulher – O fato de o Brasil ter uma mulher presidente demonstra que somos uma democracia aberta. Você acompanhou as manifestações que aconteceram no Brasil no último dia 15, mesmo que à distância. Qual a avaliação que se pode fazer sobre os impactos da imagem negativa da presidente sobre os avanços do empoderamento da mulher na política?
Nancy Thame – Eu não associaria o momento que estamos vivendo com a condição de termos uma mulher na presidência. Não é isto. Temos um cenário crítico, complexo, um partido no poder que fragilizou as Instituições e a democracia. Sim, a democracia, pois temos hoje um povo refém de benefícios sociais que não são libertadores. Não são políticas emancipatórias. Passamos também por uma crise de valores, por um cenário de corrupção avassaladora. Há um descrédito quanto ao sistema político.
PSDB Mulher – Que missão trouxe desta conferência para sua atuação no secretariado da mulher do PSDB?
Nancy Thame – As dificuldades são muitas. Precisamos de transformação de mentalidade, de atitude e de comportamento.
Se somos invisíveis é também porque permitimos. Temos que estudar muito, ler e estrategicamente cavar nossos espaços.
Diria que temos como missão continuar a investir em capacitações, onde o enfoque feminista tem que ser um tema revolucionário, um mecanismo para a autonomia das mulheres.
*Assessoria de Imprensa do PSDB-Mulher SP