Opinião

“O capitão do time”, análise do ITV

Foto: Agência Brasil

Jose Dirceu Foto ABrO avanço das investigações da Operação Lava Jato vai revelando meandros que deixam mais claro até onde o petrolão chegou e como funcionavam suas engrenagens. Não foi apenas um esquema para financiar o PT e corromper parlamentares. Envolvia geopolítica e extensos canais de corrupção para garantir sustentação aos governos de Lula e Dilma.

Neste sofisticado organograma, uma figura surge com destaque: José Dirceu ou o “capitão do time”, como Lula se referia a ele. O ex-ministro esteve em praticamente todas. Sua contabilidade empresarial depois que deixou o governo, em 2005, revela um prodígio do mundo dos negócios que só num ambiente mafioso teria condições de prosperar tanto.

Em 2006, depois de ser defenestrado da Casa Civil de Lula por envolvimento no mensalão, Dirceu montou uma consultoria que, até 2013, faturou R$ 29,3 milhões. O período coincide com a época em que o ex-ministro foi processado, julgado e condenado pelo STF por crime de corrupção ativa – do de formação de quadrilha ele escapou na repescagem.

Dirceu talvez seja caso único no mundo de empresário que fatura mesmo estando em cana. Em 2013, ano em que esteve encarcerado na penitenciária da Papuda em Brasília, a empresa dele faturou incríveis R$ 4,2 milhões, segundo documentos revelados pela Lava Jato na semana passada.

Uma das principais suspeitas para tão notável sucesso é que o dinheiro que foi para a JD Consultoria e Assessoria fora desviado de contratos da Petrobras, conforme publicou a Folha de S.Paulo no domingo, a partir de declarações de empreiteiros presos pela Lava Jato em Curitiba. Ou seja, os dutos do petrolão alimentaram a caldeira do ex-ministro.

Do que a consultoria de Dirceu faturou desde que foi criada, um terço (R$ 9,5 milhões) veio de empresas investigadas na Lava Jato. Um dos clientes atendidos pelo ex-ministro era uma das firmas que distribuíam propina para o PT.

Também a diplomacia companheira está implicada nos meandros do dinheiro sujo. De um de seus clientes, Dirceu recebeu a missão de destravar negócios pendentes com a Venezuela. O “capitão do time” foi ao comandante Hugo Chávez e resolveu a parada.

As bondades com governos companheiros, à base de dinheiro público, rendiam gordos negócios para os petistas. À luz disso, fica fácil entender, por exemplo, por que a Petrobras enterrou quase R$ 40 bilhões numa refinaria desenhada para atender interesses venezuelanos e não brasileiros…

Dilma Rousseff foi saudada como “camarada de armas” quando assumiu o posto que José Dirceu deixou em 2005. Julgava-se que apenas a trajetória pretérita unia as duas biografias. Mas a investigação do Ministério Público sugere que as vidas de ambos andaram de mãos dadas ainda por longo tempo. Os tentáculos da corrupção se interconectam.