Opinião

“O mundo feminino está mais irritado com Dilma do que o masculino”, por Terezinha Nunes

Foto: PSDB-PE
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Quando escolheu a então ministra Dilma Rousseff para ser candidata à sua sucessão e batizou-a de “mãe do PAC” (mais um bem calculado gesto de marketing) o ex-presidente Lula tinha como objetivo atingir o segmento feminino ajudando a eleger, pela primeira vez, uma mulher brasileira presidente da República.

Era natural que as mulheres – petistas ou não – depositassem em Dilma as esperanças de, finalmente, terem um espaço à altura da expressão do voto feminino que hoje representa mais de 50% do eleitorado.

Afinal, em que pese a existência de uma lei que lhes garante o direito a 30% das vagas de candidatos proporcionais, elas ocupam no máximo 10% das vagas nas câmaras de vereadores, assembleias legislativas ou no Senado e na Câmara Federal.

Sabia-se, pelo andar da carruagem e pela expressão do machismo ainda presente em nosso país, que, pelas vias normais, seriam necessárias décadas para que uma mulher, saindo das casas legislativas ou de um governo de estado – quase não havia mulheres governadoras e a situação persiste – se arvorasse a disputar a presidência com chance de vitória.

Marina Silva, por coincidência, tentou chegar ao posto duas vezes já na era Dilma mas não obteve êxito. Dilma, conforme o figurino marqueteiro de Lula, não ganhou apenas o apelido de “mãe do PAC” mas o povo pobre nordestino que lhe garantiu as duas vitórias batizou-a como “mulher de Lula”.

Mais uma vez o feminino trabalhando em prol da ungida pelo ex-presidente. Na verdade, havia mais uma razão para a aceitação de Dilma em sua primeira eleição.

As mulheres, que são acostumadas a ver chegarem à política parentes de políticos, vislumbraram a possibilidade de também chegar lá sem pertencer a famílias de políticos.

São pouquíssimos e recentes os casos em que mulheres não apadrinhadas por pais, maridos ou mesmo filhos conseguiram vitórias eleitorais (com os homens isso acontece também mas é menos raro).

Em Pernambuco, no momento, das mulheres que ocupam cargos no legislativo estadual e federal apenas a deputada estadual Tereza Leitão e a deputada federal Luciana Santos – única mulher no meio de 24 homens parlamentares federais – não têm parentesco com políticos, sendo eleitas com o apoio de segmentos sociais.

Mas, da mesma forma que Lula atiçou o ego das mulheres ajudando a eleger uma delas para o maior cargo público do país, sabia-se desde o primeiro momento que o tiro poderia sair pela culatra. Se Dilma não desse certo seu fracasso levaria consigo uma frustração do mulherio em grande proporção.

A expressão do panelaço que as mulheres promoveram este domingo à noite na hora em que a presidente falava na TV pedindo uma feminíssima paciência, foi a expressão deste desencanto. Nas rodas femininas fala-se, cada vez mais, que, após o fracasso da presidente, agora chamada de arrogante e despreparada além de intolerante, uma mulher vai ter ainda mais dificuldade de chegar ao posto nos anos futuros.

Muito mais do que se Dilma não tivesse sido candidata e eleita por dois mandatos. Agora virá átona o primeiro fracasso. O tempo dirá se elas têm razão mas uma coisa parece evidente. O mundo feminino está mais irritado com Dilma do que o masculino. Basta parar para ouvir o que homens e mulheres andam falando em todos os lugares. Não foi à-toa, portanto, que um apelo às panelas via internet ganhou a dimensão que observamos. Ecoou fundo e calou o Planalto.

* A ex-deputada Terezinha  Nunes (PSDB-PE) é presidente da Junta Comercial de Pernanbuco (Jucepe) 

* Artigo publicado no Blog de Jamildo