Opinião

“Cabulando Aula”, análise do Instituto Teotônio Vilela

Charge: Cabral/PSDB
Charge: Cabral/PSDB

Charge: Cabral/PSDB

Faz duas semanas que Dilma Rousseff foi reeleita presidente do país. Desde então, só o que se viu dela foi a negação do que passou a campanha afirmando. O receituário que agora prenuncia para a economia também contradiz o que ela defendeu perante os eleitores. Tudo nela rescende a improviso e a contradição.

Em entrevista concedida aos principais jornais do país na semana passada, Dilma disse que está pronta para fazer “o dever de casa”. Entretanto, ela mais parece aluno que cabulou aula durante o curso inteiro e agora, quando se aproximam os exames de fim de ano, diz que vai ser mais aplicado e recuperar o tempo perdido. Difícil crer na aprovação…

Já se passaram quatro anos de administração Dilma e mais oito de gestão petista. O discurso oficial acaba, porém, buscando um jeito de vender a impressão de que o governo deles começou ontem e tudo de ruim que existe no país é herança de adversários. Na lógica do PT, o inferno são sempre os outros.

Na entrevista, a presidente agora admite que é preciso enfrentar a inflação, algo que durante toda a campanha ela negou, porque os preços estavam “sob controle” – quantas vezes Dilma repetiu isso nos debates? Também diz que tem que cortar gastos e ajustar as contas – apesar de, na eleição, ter dito que isso era “absolutamente desnecessário”.

Esta é apenas uma das faces do problema: a, chamemos assim, falta de sinceridade da presidente quanto trata de assuntos tão relevantes para a vida das pessoas, como a inflação, e para o bom funcionamento do país, como o controle das contas públicas.

A outra, talvez mais grave, é que toda vez que é questionada sobre as medidas que pretende tomar para enfrentar as dificuldades Dilma enrola. Inflação? “Vamos ver o que dá para fazer.” Corte de gastos e mais equilíbrio nas contas? “Estamos fazendo estudos.” Mas, apenas agora, ao fim de quatro anos?

Da cartola da presidente, até agora não saiu coelho. Na falta de um programa de governo coerente, que ela recusou-se a apresentar durante da campanha, Dilma vai alinhavando medidas necessárias, vastas intenções e muitos pensamentos imperfeitos. Falta-lhe seriedade, coerência, credibilidade.

Sempre que é instada a comentar alguma medida substantiva que a oposição defendia, Dilma prefere tripudiar, e alterna entre espírito de palanque e senso de gabinete. Chama de “lorotas”, por exemplo, a necessidade de desinchar o Estado, torná-lo mais eficiente.

Se quiser tentar tirar o país do buraco, Dilma terá que fazer um segundo mandato bem diferente do que foram seus primeiros quatro anos. Pelo que disse até agora, das duas uma: ou a presidente reeleita não faz a menor ideia de como conseguir isso ou acredita que a receita que seguiu até agora deu certo e será repetida. Nenhuma das alternativas é boa.