Opinião

“Trilhos do desenvolvimento”, por Lúcia Vânia

Foto: Agência Brasil
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Participei, na cidade de Anápolis, da inauguração do trecho da Ferrovia Norte-Sul, de 855 quilômetros, que liga aquela cidade a Palmas, no estado do Tocantins. A partir de agora será possível percorrer sobre trilhos o caminho de Anápolis até o Porto de Itaqui, no Maranhão.

 

Porém, quero reforçar que a nossa comemoração não deve impedir que vejamos a realidade. Embora pareça que estamos diante do coroamento de um processo, em verdade estamos diante do início de mais uma caminhada, tão longa e desafiadora quanto a construção da Ferrovia Norte-Sul.

 

Primeiramente, porque o modelo escolhido para a operacionalização da ferrovia, de acesso aberto, ainda é uma novidade na administração brasileira.

 

É um modelo de vanguarda, no qual a Valec, empresa pública da União, é proprietária da infraestrutura física, e vende, mediante leilões, capacidade de transporte para empresas privadas de logística.

 

Segundo estimativas publicadas pela Federação de Indústrias de Goiás, a implantação de novos terminais intermodais para abastecer a ferrovia com cargas já demandará investimentos imediatos de R$ 644 milhões, distribuídos entre as cidades de Campinorte, Rio Verde, São Simão e Anápolis. Também deverão ser implementados e geridos pela Valec pátios de pesagem ao longo do traçado da ferrovia.

 

Também não podemos descuidar do impacto socioeconômico da nova ferrovia em termos de desenvolvimento regional do Norte e do Centro-Oeste.

 

Certamente haverá grande movimentação de pessoas em direção às cidades beneficiadas pelo traçado da ferrovia, atraídas pelas ofertas de emprego que serão criados ao longo desta verdadeira espinha dorsal do desenvolvimento econômico e social que será a Ferrovia Norte-Sul.

 

O fluxo migratório exigirá melhores condições de moradia, de transporte, de educação e de saúde para estes contingentes de pessoas que virão para as cidades estrategicamente localizadas.

 

Teremos novos desafios ambientais, que demandarão atuação efetiva dos municípios e dos estados envolvidos. Na semana passada a mídia nacional abordava o traçado da ferrovia, que corta bairros residenciais, inclusive na cidade de Anápolis, configurando uma situação urbana até então desconhecida pela administração municipal. Este tipo de desafio será uma constante a partir de agora.

 

Grandes desafios são colocados também ao planejamento urbano, de saneamento, de transportes públicos, de abastecimento e de provisão de serviços de diversão e cultura.

 

Todos esses desafios, se bem enfrentados, trarão um novo ciclo de desenvolvimento em termos quantitativos e qualitativos, especialmente para os estados beneficiados pela Ferrovia Norte-Sul, dos quais o estado de Goiás, com seu crescimento bem acima da média nacional, é, talvez, o mais promissor e o mais importante.

 

Esses desafios nos trarão também um salto de competitividade, cujo resultado será a dinamização da atividade econômica e, consequentemente, um salto de desenvolvimento, produzindo geração de ainda mais empregos e de renda para os trabalhadores e suas famílias.

 

Creio que já aprendemos muitas lições durante esta longa obra de construção da estrutura física da Ferrovia Norte-Sul. Mas sei que muitas outras lições, em muitas outras áreas,  serão colocadas.

 

Espero que tenhamos, nas próximas décadas, governos com o necessário preparo para enfrentar esses desafios, e espero que tenhamos, assim, um processo de aprendizagem mais curto, pois cada vez mais a sociedade cobrará de seus governos eficiência e economicidade no emprego dos recursos públicos.

*Lúcia Vânia é senadora (PSDB/GO), Ouvidora Geral do Senado e jornalista

**Publicado originalmente no Facebook da senadora Lúcia Vânia