Opinião

Como candidato do PSDB à Presidência, Aécio defende unidade e mudanças

aecio-convencao-38São Paulo (SP) – Escolhido por 99,11% dos convencionais do PSDB neste sábado (14), o presidente nacional do partido, o senador Aécio Neves, discursou para cerca de 5 mil pessoas durante a Convenção Nacional da legenda, em São Paulo. Em tom emocionado, ele lembrou do avô e dos exemplos que o guiam na política.

A seguir, a íntegra do discurso:

“Meus amigos, minhas amigas, de cada canto desse maravilhoso Brasil.
Eu acho que vocês podem imaginar a emoção que eu sinto neste instante.
O mais importante momento de toda a minha caminhada política. E as coisas não acontecem ao acaso.
Peço licença a vocês para saudar de forma muito especial minha mãe que está aqui presente, companheira de todos os momentos e de cada instante dessa caminhada.
A minha filha querida, amada Gabriela, também aqui hoje, inspiração permanente em cada ato do meu cotidiano.
Um beijo à distância, minha esposa e meus filhos, recém-nascidos, que se recuperam bem, graças a Deus, e haverão de crescer  num país mais justo, mais solidário e mais generoso.
É indescritível.
Indescritível a emoção que eu sinto nesse instante e volto um pouco no tempo  e ao ouvir tantas e tão expressivas lideranças políticas do Brasil aqui hoje se sucederem nessa tribuna, não apenas prestando a mim homenagem, mas irradiando confiança na construção de um tempo novo no Brasil.
A minha mente, a minha memória voltava no tempo e me lembrava de dois homens que foram absolutamente fundamentais na minha caminhada.
O primeiro, aquele que me pegou ainda menino pelas mãos e ensinou que honestidade e responsabilidade devem ser companheiras permanentes dos homens de bem. Minha saudade ao meu pai Aécio Cunha.
O tempo passou e na minha adolescência uma mão segura, firme, idealista e corajosa me ensinou que não existe,  na vida de uma sociedade, uma atividade mais digna e mais honrosa do que a política. Mas ele se referia à política feita com seriedade, com responsabilidade e com destemor.
Obrigado, meu avô Tancredo, pelos seus ensinamentos, pelos seus exemplos e pela sua coragem, que permitiu aos brasileiros, nos reecontrarmos com a democracia e com a liberdade.
Gostaria nesse instante, antes de me dirigir a vocês, e ao Brasil que nos ouve hoje, algumas palavras e me permitirei ler aqui alguns compromissos  para o início dessa caminhada, voltar há 30 anos.
No momento em que o Brasil se unia em torno de um grande sonho, o sonho da reconquista da liberdade.
A frustração e a dor com a morte do presidente Tancredo tomou conta da nação, e obviamente, de forma muito profunda, daquele que o acompanhava todos os dias e todas as horas.
Peço licença para voltar a 30 anos atrás e peço ajuda a um grande brasileiro, e peço que a sua voz, a voz do grande amigo e poeta Ferreira Gullar nos possibilite essa viagem no tempo.
[Leitura do poema “Palavra Gasta” de Ferreira Gullar, feita em áudio]
Adeus a Tancredo
Companheiro Tancredo Neves, eu não vou chamar você de Excelência logo agora, quando mais do que nosso presidente, você é nosso irmão ferido e que se vai. Foi você quem conduziu de, uma ponta a outra do país, acima de nossa cabeça, uma tocha de chama verde como a esperança.
Esperança é uma palavra gasta, mas não era a palavra, era a esperança mesma, que você carregava, e ela ainda Luzia em suas mãos hoje, no derradeiro momento, num quarto de hospital em São Paulo.
E quando suas mãos se apagaram, essa chama brilhou no céu da pátria nesse instante. Pátria é uma palavra gasta, mas pátria é terra, é mãe, embora muitos de nós, milhões de nós, ainda vagueiem pelas cidades, pelos campos, sem o penhor de uma igualdade que havemos de conquistar com o braço forte.
Pátria é uma palavra gasta, mas no seio dela descansarás Tancredo amigo, no chão macio de São João del Rey, amado pelo povo, à luz de céu profundo. Povo também é uma palavra gasta, mas o povo, o povo mesmo despertou quando lhe prometeste uma Nova República, iluminada ao sol de um novo mundo. E ela virá, e tu a construirás conosco, erguendo nossos braços, cantando em nossa boca, caindo e levantando como este povo em que, ao morrer, te transformastes.
Amigos,
As palavras que acabamos de ouvir resgatam o profundo sentimento de esperança que partilhamos durante tanto tempo – e que devem nos inspirar nessa caminhada que iniciamos.
Elas nos falam, no fundo da alma, dos nossos deveres para com o Brasil e dos haveres que temos com cada um dos brasileiros.
Elas engrandecem o sentido do nosso propósito.
Elas têm o poder de nos lembrar de onde viemos, quem somos e porque estamos aqui.
Se sempre foi inequívoco o compromisso do PSDB com a democracia e a liberdade, foi a nossa coragem que nos legou o país moderno e promissor que somos hoje.
Foi com ela que colocamos fim ao ciclo hiperinflancionário que aprisionava o nosso crescimento e roubava o nosso futuro.
E atingia especialmente os mais pobres, os que mais precisavam e menos tinham.
Com a determinação do presidente Itamar e a liderança inconteste do presidente Fernando Henrique, transformamos a realidade brasileira de forma estrutural e definitiva, com o Plano Real.
Isso, quando quase ninguém acreditava que seria possível.
O Plano Real não garantiu apenas o poder de compra do salário. O Plano Real reconquistou para o Brasil o mais simbólico valor de que uma nação pode dispor: a confiança nela própria.
Foi a nossa vocação transformadora que construiu o Brasil do nosso tempo.
A nossa visão estratégica criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, para que o dinheiro do cidadão fosse mais bem cuidado e aplicado.
O nosso compromisso com o futuro garantiu vagas para todas as crianças na escola.
O nosso respeito com a saúde dos brasileiros – e me permitam aqui uma homenagem ao ministro e amigo José Serra – criou os genéricos, garantindo medicamentos mais baratos para a população. E o melhor programa de combate à Aids em todo o mundo.
Nosso firme compromisso com o desenvolvimento e o bem-estar de cada um dos brasileiros modernizou a estrutura do Estado.
Ampliamos o acesso a serviços, como o das telecomunicações, que abriram as portas do futuro para o país e criaram novas oportunidades de trabalho para milhões de brasileiros.
Quero afiançar a cada um de vocês:
Nenhum outro governo, em nossa história recente, deixou um legado de transformações e criou bases tão sólidas para que o país pudesse avançar, como o governo do PSDB, apoiado sempre pelos nossos aliados, e homenageio de forma explícita e forte o Democratas de tantos companheiros que aqui hoje comparecem.
Para onde quer que se olhe, há marcos fundamentais de modernidade implantadas por nós, quando tivemos a honrosa responsabilidade de governar o Brasil.
A criação das agências reguladoras a modernização dos portos; a simplificação do sistema tributário, com o Simples; o apoio ao homem do campo, com o Pronaf.
No governo, o PSDB preocupou-se de fato em governar para as pessoas.
Nossa responsabilidade foi com cada brasileiro e brasileira que precisava do apoio das ações governamentais.
Na educação, com o Fundef.
Na saúde, com a expansão do Saúde da Família, da Saúde da Mulher e com a Emenda 29, que garantiu mais recursos para o sistema público.
Na luta contra a miséria, e acho importante rememorarmos, o Fundo de Combate à Pobreza, a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social e da Aposentadoria Rural, a Política Nacional do Idoso, o Programa de Proteção e Promoção das Pessoas com Deficiência.
Fomos nós, o PSDB e seus aliados, com o apoio do povo brasileiro, quem criamos os primeiros e definitivos programas de transferência de renda nacionais. E o maior deles, o Benefício da Prestação Continuada.
Estruturamos a rede de proteção social, demos início ao que se transformaria depois no Bolsa Família. Criamos o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, do trabalho escravo e degradante.
E esses são apenas alguns exemplos do trabalho que fizemos.
E não adianta nossos adversários quererem, a história não se reescreve. Ela está aí para ser revisitada e reconhecida.
A nossa coerência com nossos princípios e valores nos manteve na liderança da oposição nos últimos 12 anos.
Mas é preciso reconhecer que nossos adversários também mantiveram a sua coerência.
Quem foi contra o Plano Real é quem hoje permite a volta da inflação.
Quem foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal é quem hoje assina a maldita contabilidade criativa.
Quem se negou a apoiar a união nacional defendida por Tancredo e Itamar, em dois momentos importantíssimos da vida nacional, são os mesmos que se esforçam hoje em dividir o Brasil de forma perversa  entre  o nós e eles.
Nos últimos anos, com velocidade surpreendente, o legado bendito que a gestão do PSDB deixou para o país está se esvaindo, se esgotando.
A inflação é uma realidade que assalta a mesa dos mais pobres.
A confiança, interna e externa, que havia sido duramente conquistada, foi perdida no rastro de incontáveis demonstrações de desapreço à transparência e inegável pendor autoritário e intervencionista.
Os brasileiros, a verdade é essa, percebem que foram traídos e por isso o ambiente de indignação e desalento tomou conta de todos os cantos do Brasil.
Acreditaram na propaganda de quem dizia defender a ética. E elegeram um governo que foi protagonista dos maiores escândalos de corrupção da nossa história.
Acreditaram na propaganda de quem dizia defender o patrimônio público. E elegeram um governo que em poucos anos vem aniquilando o valioso patrimônio construído por gerações de brasileiros.
A Petrobras, construída durante 60 anos pelo esforço de brasileiros e brasileiras, apenas no governo da atual presidente perde metade do seu valor, deixa de frequentar as páginas econômicas, para frequentar quase que diariamente as páginas policiais.
A Eletrobras vai pelo mesmo caminho.
Os fundos de pensão, patrimônio dos servidores das empresas estatais e bancos públicos, também foram solapados pela ganância de um grupo político que abdicou,  há muito tempo, de ter um projeto de país para se contentar, única e exclusivamente, em conduzir um projeto de poder.
Esses são apenas alguns entre inúmeros exemplos com os quais somos confrontados no nosso dia a dia.
No lugar de um novo e prometido grande salto, retrocedemos.
Perdemos o rumo.
Problemas antigos, como a inflação, por exemplo, que imaginávamos superados, estão de volta, atrasando a agenda nacional.”