Opinião

“O câncer e eu”, por Réia Sílvia Lemos

ReiaO câncer como doença que afeta as células de um organismo é decorrente de uma transformação no genoma de uma célula, cujo material genético (DNA) pode ser afetado por fatores externos ou intrínsecos ao próprio indivíduo, em seus momentos de divisão celular. Essas células, por não terem os limites locais (topoinibição) inerentes a um ambiente da comunidade celular/tecidual reproduzem-se velozmente e ao se acumularem umas sobre as outras originam os tumores; que por continuarem se dividindo, o organismo tenta aprisioná-las nos órgãos linfáticos às proximidades; mas não conseguindo, invadem e se disseminam pelos vasos sanguíneos em diferentes partes do organismo (metástases).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê 22 milhões de novos casos de câncer por ano nas próximas décadas e que a doença já está afetando mais de 60% das populações da Ásia, África, Américas Central e do Sul, muitos deles causados pelo fumo, álcool e bebidas açucaradas. Vítima de mim mesma, fumei até 1999 e fumante passiva fui até 2013. Sou exemplo de como nos descuidamos do trato com a saúde, menoscabando certas orientações e ignorando a exuberância de sinais e sintomas que podiam ter-me ajudado a combater o mal em tempo mais hábil; mas como sabem, as coisas acontecem com os outros, não conosco!

Como profissional de saúde e docente do ensino superior não considerei a primeira informação percebida: a dificuldade para cantar (é… eu, também, era uma cantante), no ano de 2006. Depois a rouquidão progressiva, mas instável. Em 2010, tornando-se persistente, foi-me dito que era um “distúrbio funcional” (sabem, era professora há 30 anos; agora 34 anos). Não era! A voz tíbia suplicava por atenção e, finalmente, diante da sua inaudível vocalização busquei os profissionais da área, em 2013, e descobri que algo dominava minhas cordas vocais e obstruía minha laringe, depois identificado com um tumor. Sem a voz, não mais cantar, não mais falar, mas não ceder e a luta contra buscar…

Hoje, submeto-me a tratamento de ponta, ainda pouco acessível no SUS e enfrento com resignação as sequelas do mesmo: a careca que estampo revela o cuidado que deveria ter tido; mas tem sido exemplo para algumas mulheres, iguais pacientes, que tiraram de seus escaninhos fotos de suas escondidas carecas que passaram a estampar em seus perfis de redes sociais, não mais envergonhadas. É isso: enfrentar o câncer de cabeça erguida!

*Réia Sílvia Lemos é presidente do PSDB Mulher Belém (PA)