Opinião

“Francisco, um revolucionário”, por Cristina Lopes Afonso

Artigo de Cristina Lopes Afonso, vereadora de Goiânia (PSDB) 

Divulgação“Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?”. Palavras que são óbvias à luz do mundo contemporâneo, em que a natureza e a orientação de cada um deve ser respeitada dentro do conceito de direitos individuais e à luz do conhecimento científico, mas vindas de um papa, representante máximo de uma instituição milenar que foi hegemônica no período medieval, são significativas.

E aqui eu reforço o que já havia dito em discussões privadas sobre o tema: comparar Francisco com Silas Malafaia e/ou com Marco Feliciano é um erro, uma injustiça. Malafaia e Feliciano pregam o ódio aos homossexuais, como numa cruzada contra algo diabólico que, segundo eles, existe quando alguém deseja amar e dividir sua vida com uma pessoa do mesmo sexo. Essa empreitada antigay dos líderes evangélicos não se resume aos templos, mas contamina a ação política e até comissões que deveriam ter como princípio o entendimento da diversidade humana. Eles não querem apenas combater, mas “curar” o corpo e “exorcizar” o espírito dos homossexuais.

Essa postura já foi comum na Igreja Católica. Pessoas que no passado ostentaram o anel papal lançaram à fogueira, sem piedade e como exemplo ao mundo, os que discordavam de seus dogmas. Simbolicamente, inquisições continuam a acontecer em forma de segregação, mas é interessante lembrar que João Paulo II pediu perdão pelo que se fez com Joana D’Arc e ela acabou canonizada pela mesma igreja que a queimou viva.

Não acho que Francisco peça perdão aos gays por toda a discriminação sofrida em milênios, nem entenda o amor a alguém do mesmo sexo como completamente “normal”. Mas as palavras de hoje têm um significado importante: elas caminham no sentido contrário do ódio pregado pelo fundamentalismo cristão e são uma ferramenta poderosa na luta contra a violência que se pratica contra esse público tão massacrado moral e fisicamente.

Uma das passagens bíblicas mais utilizadas, dentro e fora da igreja, em diversos contextos, é a que Jesus impede um apedrejamento de uma mulher adúltera, usando a famosa frase “se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. Uma atitude de Cristo que nos chama à compaixão, e a nos colocarmos ao lado de quem está completamente vulnerável e exposto à violência e opressão.

O chamado subliminar do Papa Francisco exige que não sejamos alienados aos sofrimentos e injustiças porque passam o movimento das minorias, todos os dias, pelo mundo inteiro, mas que tomemos posição firme e atuante na luta ao lado de todo aquele que é injustiçado e oprimido.

O Cristo de Francisco me parece mais perto daquele que impediu o apedrejamento de Maria Madalena. O de Malafaia e Feliciano eu prefiro continuar não entendendo.