Opinião

“A voz rouca que vem dos estádios”, por Solange Jurema

Solange-Bentes-Jurema-Foto-George-Gianni-PSDBA sonora vaia que a presidente da República, Dilma Rousseff, ouviu dos quase 70 mil torcedores que lotaram o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, na abertura da Copa das Confederações, não é apenas um “jeito” brasileiro de se manifestar em locais públicos, como argumentam alguns.

Trata-se, em primeiro lugar, da vocalização de um sentimento que toma conta de todo um país em razão dos desmandos, dos abusos e do descontrole do atual governo federal. É um sinal claro, a 1 ano e 4 meses da eleição presidencial, de que a população está dizendo “não” a tudo o que está sendo feito.

Está dizendo “não” aos inacreditáveis 7 bilhões de reais gastos na construção dos estádios, alguns deles com o dobro do preço estimado, como o Mané Garrincha – ia ser 800 milhões e custou 1,6 bilhões de reais. E com boa parte dos recursos bancados direta ou indiretamente com recursos públicos.

Está dizendo “não” aos trapalhões e aloprados do governo federal que não sabem gerir com competência o Bolsa Família e reprimem com violência os movimentos sociais.

Do lado de fora dos estádios, o “não” é dito por segmentos da população que indiscriminadamente se reúnem e protestam contra ficar sem teto por causa da construção dos estádios; contra os gastos para a Copa da Confederações e do Mundo. É um “não” desarticulado, difuso, mas que vem eivado de insatisfações, que vem da voz rouca dos estádio, da voz rouca das ruas.

Por trás de cada um desse segmento está uma insatisfação maior com que se vive no Brasil nos dias de hoje. A vaia do Mané Garrincha, como se sabe, foi protagonizada pela classe média habilitada a comprar ingressos por 200, 300 ou 400 reais, que de algum modo está sendo severamente castigada pela atual política econômica do governo Dilma.

Os números comprovam a situação da classe média no Brasil. Segundo o IBGE, a renda da classe média subiu cerca de 6% para uma inflação de preços ao consumidor (IPCA)medida de 5% para um aumento de seus gastos-padrão  em 23%.

Os remédios com 37% lideraram os aumentos para a classe média, os preços dos produtos no supermercado subiram 25%, seguido dos de combustíveis com 16%, de alimentação fora de casa em 10%, telefone e celular 14%. É muito aumento para pouco reajuste salarial.

Portanto, as vaias do novo estádio nacional de Brasília vieram, sim, da classe média insatisfeita em pagar a conta sem receber de volta a devida prestação do serviço público, mas ecoam a voz rouca das ruas que, mesmo de maneira difusa e desarticulada, começa a se organizar para dizer “Não” ao que está aí, em 2014.

*Presidente do Secretariado nacional do PSDB-Mulher