Opinião

“Incomoda?”, por Solange Jurema

Solange-Jurema-Foto-George-Gianni--300x199.jpgComeço esse texto imaginando se a você, homem, incomoda o fato de receber menos do que sua mulher. Incomoda?

E você, mulher, integrante do ranking daquelas que  ganham mais do que os homens, convive bem com essa situação?

Se a mulher a quem a segunda pergunta foi dirigida respondeu que sim, pode considerar-se parte de uma porcentagem mínima no Brasil, e exemplo para todas nós, que batalhamos por uma sociedade igualitária.

O tema: salário inferior para mulheres, mesmo que desempenhem funções iguais às dos homens nem deveria ser discutido, por estar superado, mas não podemos ignorá-lo. Os números presentes na pesquisa “Características do Emprego Formal”, com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), enviada pelas empresas ao Ministério do Trabalho – mostram que a diferença salarial ainda é presente no Brasil e merece ser debatida pela sociedade.

Infelizmente, apenas no DF e no Amapá, o salário médio das mulheres é maior do que o dos homens. É inconcebível que, nos outros estados do Brasil, em pleno ano de 2014, ainda seja vedado à mulher receber o mesmo salário que um homem, para exercer a mesma função, mesmo nos casos em que é mais ou tão qualificada quanto ele.

De acordo com outra pesquisa, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no nosso país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da região latino-americana, que é de 17,2%. E mais uma vez pergunto, o que devemos fazer para reduzir essas disparidades salarias?

Iniciar pela educação da população minoritária, implementar políticas públicas que qualifiquem e facilitem a vida das mulheres, aumentar o número de creches, permitindo que as mulheres se dediquem mais à sua vida profissional?

Essas sugestões já foram apontadas por muitos, inclusive por mim, e as destaco porque precisam sair da teoria para virar realidade e de fato mudarem os dados das pesquisas.

Mas mesmo com tudo isso, precisamos nos mobilizar e prestar atenção nos bons resultados e mudanças que vêm ocorrendo. No Brasil, a diferença salarial média entre homens e mulheres é de 27% e, há 10 anos, era de 36,4%.

Hoje, as mulheres são maioria entre os brasileiros com ensino médio e superior. Enquanto elas estão 15% mais presentes no ensino médio, a diferença chega a 36% mais mulheres com ensino superior do que os homens. Mais de oito milhões de brasileiras estudaram mais de 15 anos contra seis milhões de homens. Em outras palavras, as mulheres estão mais qualificadas e, mesmo assim, continuam a receber salários menores dos que os dos homens.

Conquistar direitos iguais só depende do empenho de todas nós, que somos a maior parte da população e, segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), também somos maioria entre os brasileiros que concluíram os ensinos médio e superior.

Nesse sentido, o Distrito Federal e o Amapá são exemplos animadores, na medida em que mostram que nessas unidades da Federação as mulheres estão mais bem situadas do ponto de vista salarial em relação aos homens. A questão é saber como os casais podem lidar com isso.

Precisamos compreender o nosso papel fundamental na sociedade e não aceitar salários inferiores aos pagos para homens que exerçam as mesmas funções.

Além disso, é imprescindível que participemos da política para, juntas, legislarmos a respeito desse e de outros temas, conscientizando nosso povo e criando leis mais severas contra o preconceito e a discriminação, inclusive salarial.

Solange Jurema