Opinião

“Mulher negra, símbolo da resistência”, por Judite Botafogo

042Celebra-se nesta sexta-feira, dia 25 de Julho de 2014 o Dia Internacional da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha. A data surgiu em 1992 na República Dominicana e marca, internacionalmente, a luta e a resistência da mulher negra em toda a América do Sul e Caribe.

As celebrações desta data em várias entidades e  Países buscam fortalecer a luta contra o racismo, a discriminação e as desigualdades sociais, que por mais que se tenha avançado e  conquistado espaços,  ainda são visíveis: sejam nas famosas ou anônimas.  A trajetória da mulher negra é marcada por inúmeros desafios, que englobam a discriminação por gênero e por raça.

Lamentavelmente, o  que poderia ser considerado hoje como história ou reminiscências do período colonial permanece, entretanto, vivo no imaginário social e adquire novos contornos e funções em uma ordem social supostamente democrática, que mantém intactas as relações de gênero segundo a cor ou a raça instituídas no período da escravidão.  .

As mulheres negras tiveram uma experiência histórica diferenciada que o discurso clássico sobre a opressão da mulher não tem reconhecido, assim como não tem dado conta da diferença qualitativa que o efeito da opressão sofrida teve e ainda tem na identidade feminina das mulheres negras.  .

As mulheres negras nunca aceitaram em si o mito da fragilidade que historicamente justificou a proteção paternalista. Elas aprenderam desde muito cedo a trabalhar pesado, fosse na dureza das lavouras ou  do comércio informal. Nós, mulheres negras, fazemos parte de um contingente de mulheres,  que soube  enfrentar desafios ferrenhos para se manter vivo   e não ceder  aos  caprichos  impostos pelo machismo.

Foto: Corbis

Foto: Corbis

A coisificação do povo negro fez com que o machismo sobre as mulheres negras tivesse radicalidade, principalmente na mercantilização de suas vidas e corpos. A exploração de seus corpos e vidas ainda existe de forma intensa.Um processo de erotização e apropriação dos corpos das mulheres negras  aponta que na divisão das mulheres entre santas e profanas, as negras são sempre vistas como as profanas.  .

É uma realidade muito difícil ser negra latino-americana numa sociedade construída a partir do racismo e do patriarcado. O racismo é uma lógica em que uma raça se organiza para oprimir outra raça, temos isso delineado nos países da América Latina através da exclusão territorial, social, econômica e política, onde a mulher negra acaba sofrendo uma dupla opressão, já que há historicamente construída, uma hegemonia de um gênero sobre o outro.

A importância da mulher negra é negada na formação da cultura nacional. Ainda hoje, há uma dificuldade em reconhecer as mulheres negras que estiveram no centro das lutas e movimentos sociais e culturais; as heroínas negras são totalmente invisibilizadas.

Foto: Corbis

Foto: Corbis

Superar o racismo e o machismo é uma luta árdua e permanente, de crítica e desconstrução do modelo de produção, da cultura hegemônica, do sistema educacional, político e econômico.Lutar pela mulher negra significa lutar contra o capital, contra o padrão de beleza eurocêntrico, contra a hierarquização da cultura, contra a colonização do conhecimento, contra o euro centrismo, contra a estigmatização. É uma luta pela valorização da cultura negra, popular e periférica, de igualdade de oportunidades, por políticas de equidade e de reparação. Significa lutar por transformações radicais contra as hierarquias de gêneros e raças presentes em nossa   sociedade.

Emancipação, respeito, dignidade, valorização, equidade e justiça são algumas das palavras que podem ser colocadas no centro do dia de luta pela mulher negra não só no Brasil, mas em toda América Latina e Caribe.