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“A jornada ainda é longa”, por Solange Jurema

Foto: Agência Brasil
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Duas pesquisas recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) trouxeram más notícias para a mulher brasileira. As informações reveladas mostram que ainda temos um longo caminho nessa nossa jornada para mudar a mentalidade da sociedade brasileira.

A visão machista da realidade social do país parece estar impregnada nos corações e mentes dos brasileiros, como revelam os números das pesquisas, bem como os dados relacionados com os estupros de meninas.

A primeira pesquisa do IPEA, “Tolerância social à violência contra as mulheres”, do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) do IPEA indica que nada menos do que 65% dos entrevistados concordam com a frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”, um absurdo.

Em pleno século 21, a sociedade brasileira, ou quase dois terços dela, corrobora a ideia machista, conservadora e retrógada de que as mulheres são responsáveis pela violência sexual que sofrem, como se elas, de algum modo, a estimulassem com sua roupa.

Essa visão antiquada é reforçada com os dados de outra frase: 58,5% dos entrevistados concordaram com a expressão “se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”, outro absurdo.

O mais  grave é que  o apoio a essas duas afirmações está embutido a ideia de que as mulheres que se vestem de maneira interpretada como “provocante” merecem algum tipo de punição, de correção social ou mesmo agressão sexual.

Uma ignomínia!

O estudo revela ainda que quase 70% dos entrevistados concordam total ou parcialmente com a frase “o homem deve ser a cabeça do lar” . Trata-se de uma visão machista, patriarcal, que não mascara o comportamento dos homens que ainda veem a mulher como “subordinada” a seus desejos e vontades – embora se saiba que hoje elas são responsáveis por quase 40% dos lares brasileiros.

Certamente essa maneira obtusa de encarar o mundo e o papel de um homem e de uma mulher na sociedade levam a outra trágica realidade do Brasil: mais da metade das meninas estupradas, em 2011, são crianças de até 13 anos de idade, exatos 50,7%.   Nada menos do que 89% das vítimas foram do sexo feminino, e crianças e adolescentes representam mais de 70%.

Esses números estão presentes no estudo do IPEA “Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde”, no ano de 2011, que traz outros dados absurdos da vida brasileira.

No país, nesse ano, foram notificados oficialmente 12.087 casos de estupro, somente aqueles casos em que a vítimas procuraram atendimento médico-hospitalar. Na verdade, estima-se que ocorram cerca de 527 mil tentativas de estupro e que apenas 10% dos casos registrados na polícia.

Essa dura realidade mostrada pelo IPEA não pode nos esmorecer, mas devem servir para que possam aprofundar nossa reflexões sobre a realidade brasileira, tão complexa, contraditória e surpreendente.

Continuaremos em nossa luta e disposição para aqui, na trincheira do PSDB-Mulher, levarmos nossas reivindicações de maior participação da mulher na vida politica, social e econômica do Brasil.