O governo tem uma dívida colossal com um contingente de 45 milhões de brasileiros com deficiência. Diante dos péssimos exemplos de ministros, que recentemente estacionaram seus carros em vagas reservadas, esse débito histórico nunca foi tão escancarado.
Indignada com a atitude de Marta Suplicy que estacionou o carro oficial em uma vaga para pessoa com deficiência no shopping Eldorado, fiz um pronunciamento em plenário e postei a denúncia em minha página numa rede social, dividindo com centenas de internautas a repulsa diante da situação. Em seguida, recebi uma ligação da própria Ministra, que deu razão em tudo que falei. Sugeri, então, que fosse realizada uma campanha para conscientização dos motoristas. A ideia, no entanto, não fora bem recebida por Marta, Categórica, a ministra respondeu: “Já saiu matéria no jornal, não vai me usar para isso”.
Não contente, na semana seguinte, após o vergonhoso episódio, o Ministro da Saúde Arthur Chioro estacionou novamente em vaga reservada, dessa vez na própria Câmara dos Deputados. Após críticas, ambos os ministros declararam não ter descido na vaga. Afirmaram que os motoristas haviam sido advertidos. E só.
Para mim, a resposta que deram é tão grave quanto estacionar na vaga. Esta é um direito, não uma regalia. Agora, a falta dela impede uma pessoa com deficiência de ir e vir. Esses ministros deveriam se desculpar publicamente às pessoas com deficiência ao invés de desconstruir todo o trabalho que vem sendo realizando por ativistas, familiares, profissionais e pelas próprias pessoas com deficiência.
Se uma campanha de conscientização estivesse acontecendo, como fora sugerido à ministra, este fato lamentável talvez não tivesse se repetido.
A cidadania é trabalhada a partir de espelhos. Como fazer com que os motoristas respeitem a vaga reservada quando carros oficiais não o fazem? A sociedade não pode ser sucumbida à incredulidade em seus representantes. É preciso ter referências, modelos. Exemplos bons a ser seguidos.
Não vejo outra maneira de vislumbrar um futuro de fato inclusivo e de respeito à diversidade humana que não seja a partir da informação. Informação clara, feita de fato para a massa, que atinja toda a população e todas as suas facetas, inclusive o cidadão surdo, o que tem deficiência intelectual, o cego, o analfabeto… Cidadão que costumeiramente é ignorado pelas campanhas do Governo. Ignorados até pela presidente quando se comunica com a nação.
Mesmo depois de avisar que os pronunciamentos de Dilma tinham que ter janelas de Libras, a presidente simplesmente continua a ignorar uma parcela significativa dos cerca de 10 milhões de deficientes auditivos que vivem em nosso país e se comunicam através da Língua Brasileira de Sinais. Será que para o Governo, o cidadão surdo não é brasileiro? Não tem direito de saber o que sua representante vem em rede nacional comunicar? O mesmo vale para os cegos, que não têm autonomia para acessar os sites governamentais porque muitos ainda não oferecem conteúdo com acessibilidade. Propomos então uma campanha de cobertura nacional com grande impacto. O Governo gasta fortunas em publicidade ao invés de procurar construir cidadania em seu povo.
Penso que a cidadania está na atenção que cada um de nós doa ao bem estar coletivo. Neste sentido, o Governo tem uma grande oportunidade de se redimir do péssimo exemplo que vem passando à nação e ainda contribuir com tudo que há tantas décadas lutamos para conquistar.
(*) Mara Gabrilli, 46, é deputada federal pelo PSDB-SP. (Foto: Luis Macedo – Câmara dos Deputados)
Fonte: PSDB na Câmara