Notícias

Cada vez mais recorrente no Brasil, jornalistas mulheres relatam preconceito e ataques machistas

Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil

No último domingo (8), foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Dois jornais de grande circulação no país trouxeram à tona os ataques constantes sofridos por jornalistas mulheres. Patrícia Campos Mello, repórter da Folha de São Paulo, narrou  na publicação como que virou alvo de ataques e vem sofrendo um linchamento virtual depois que Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário da agência de marketing Yacows, fez um depoimento à CPMI das Fake News.

Hans foi entrevistado para a reportagem “Fraude com CPF viabilizou disparo de mensagens de WhatsApp na eleição”, publicada pela Folha em 2 de dezembro de 2018 e escrita pelo repórter Artur Rodrigues e por mim. A reportagem, baseada em documentos públicos da Justiça do Trabalho, fotos, planilha e em relatos de Hans mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.

Em seu depoimento à CPMI, Hans contou diversas mentiras, entre elas a de que a repórter teria tentado obter informação “a troco de sexo”. Algumas horas após o depoimento, a Folha publicou reportagem que desmentiu Hans de forma cabal. As entrevistas com ele haviam sido gravadas, com a sua permissão; as fotos e a planilha que ele mandou tinham sido salvas, assim como todas as trocas de mensagem.

Essas provas revelavam que o depoente havia mentido à CPMI em diversos pontos.

A repórter falou sobre os memes, no mínimo desrespeitosos,        que têm sido disseminados com seu rosto e nome e sobre a dificuldade de ser jornalista mulher no Brasil.

“Muitas pessoas me perguntam quais as dificuldades que uma mulher jornalista enfrenta para cobrir guerras ao redor do mundo. Costumava responder que, na nossa profissão, ser mulher mais ajuda do que atrapalha. No Brasil, longe desses conflitos, ser mulher nos transforma em alvos. As agressões que sofremos têm sempre uma conotação preconceituosa: dizem que as jornalistas são feias, gordas, velhas ou prostitutas; expõem seus filhos, maridos ou pais”, disse.

Patrícia ainda fala sobre a frustração de ter a impressão de que não será a última mulher a sofrer ataques deste tipo.

“Não fui a primeira e não serei a última mulher a sofrer ataques misóginos simplesmente por fazer jornalismo no Brasil. Jornalista não é notícia. Queremos nos ater ao que é importante: apurar reportagens, investigar. As críticas são sempre bem-vindas. Mas que sejam críticas ao nosso trabalho, e não ataques sobre nossa aparência, nossas famílias, nem tentativas de nos expor ao escárnio nas redes sociais.”

A colunista do Estadão, Vera Magalhães, contou que chefias de cobertura têm poupado jornalistas mulheres que cobrem o dia a dia da residência oficial da Presidência. Motivo: sofrem agressões diárias, “pois são hostilizadas por uma claque feérica que se sente autorizada pelo comportamento do mandatário”.

“E isso não é, de forma alguma, menor ou aceitável. Jornalistas são retratadas como prostitutas em vídeos, memes e na voz do presidente, em pessoa. Isso só ocorre pela sua condição feminina, e o método não é replicado com nossos colegas homens, por mais incômodas que sejam as reportagens que produzam. Isso não é tolerável”, protestou.

Vera Magalhães ainda fez um alerta sobre o comportamento do presidente da República, Jair Bolsonaro, colocando sob ameaça a democracia.

“Esta coluna é para conversar com o leitor e dizer que, se ele minimiza esses ataques, ele relativiza o próprio valor da democracia e da igualdade de gêneros, tão duramente conquistadas.”

*Com informações dos jornais Folha de São Paulo e Estadão