A pesquisa Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta quarta (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que seis em cada dez brasileiros viviam em 2017 sem acesso adequado a, pelo menos, um dos seguintes itens considerados cruciais ao exercício da cidadania: educação, moradia, proteção social, saneamento básico e internet.
Com o aumento da pobreza mensurada pelo nível de renda da população no ano passado, esses números mostram o duplo desafio que o Brasil tem pela frente para alcançar um nível maior de desenvolvimento.
O estudo indica que o aumento do desemprego e da informalidade decorrentes da crise econômica fez o contingente de pobres no país aumentar em 2 milhões em 2017 para um total de 54,8 milhões de brasileiros, ou 26,5% da população. Em 2016, essa fatia era de 25,7%.
São considerados pobres aqueles que vivem com até US$ 5,50 (o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado) por dia, pela linha definida pelo Banco Mundial —métrica adotada pelo IBGE.
O número de brasileiros em extrema pobreza, recorte que mostra uma faixa da população ainda mais vulnerável também cresceu. Em 2017, 15,2 milhões de pessoas estavam nessa situação, que considera os que vivem com menos de US$ 1,90 por dia (R$ 140 por mês). Esse contingente aumentou em 1,7 milhão de brasileiros no ano passado e passou a representar 7,4% da população, ante 6,6% no ano anterior.
“Essa análise busca mostrar dimensões da pobreza, além da monetária, também necessárias para uma vida digna”, diz Leonardo Athias, pesquisador do IBGE.
Mas o recorte atual confirma áreas em que o Brasil precisa aprimorar suas políticas públicas com maior urgência, assim como escancara a enorme desigualdade de oportunidades no país.
A fatia da população preta e parda com restrição a, no mínimo, três dos cinco aspectos analisados era de 21% em 2017, mais do que o dobro da parcela de 9,2% dos brancos na mesma situação.
No caso do saneamento básico, a distância também é significativa: o percentual da população que se declara das cores preta ou parda com restrição ao serviço era de 45,3%, ante 27,9% entre a população branca.
“Os números deixam claro que, apesar de avanços que tivemos nas últimas décadas, ainda há uma parcela da população brasileira que é muito vulnerável”, afirma o economista Naercio Menezes Filho, do Insper.
Segundo Athias, crianças que crescem sem condições adequadas de saneamento e moradia podem ter seu desenvolvimento cognitivo prejudicado
“Essa desigualdade de oportunidades ainda na infância prejudica o futuro dessas crianças e limita a possibilidade de aumento da produtividade do país”, afirma.
As restrições analisadas foram maiores entre diversos recortes de grupos vulneráveis, como domicílios chefiados por mulheres sem cônjuge e residentes das regiões Nordeste e Norte, segmentos da população que também sofreram mais com o aumento da pobreza.
*Com informações da Folha de S. Paulo