Opinião

“É a mulher quem carrega a água do mundo na cabeça”, por Mara Gabrilli

*Publicado pela revista TPM- 17/07/18

Ter disputado um cargo em um comitê da ONU deu um trabalho danado nos últimos tempos. A agenda, que já era atribulada, ficou frenética. E meus esforços para entender as problemáticas da inclusão passaram de uma escala nacional para a global.

Todo esse empenho, no entanto, valeu muito a pena. A partir do ano que vem, o Brasil terá um representante no Comitê da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o CDPD. É a primeira vez que o nosso país tem um representante ali, pensando na galera com deficiência no mundo. É uma responsabilidade muito grande. Tão grande quanto minha felicidade. Sinto que meu olhar de tetra para o planeta até ganhou um upgrade.

Hoje, questões que antes não tinham tanta correlação para mim agora fazem todo o sentido. O acesso à água e a condição da mulher no mundo são algumas delas.

Para vocês terem ideia, mais de 2 bilhões de pessoas no planeta não têm acesso à água potável e mais de 4,5 bilhões não têm serviços de saneamento adequados. A precariedade dessa política pública é inclusive um dos maiores causadores de deficiência em alguns países.

Atualmente, estima-se que 90% dos casos de deficiência visual estejam concentrados em nações em desenvolvimento. A maior parte poderia ser evitada com políticas de saúde.

Você deve estar se perguntando o que a causa da mulher tem a ver com tudo isso. Bom, é a mulher quem busca e carrega essa água que ainda não consegue chegar a todos que precisam.

É a mulher, sobretudo a pobre, quem carrega a água do mundo na cabeça. E não por acaso, é o contingente feminino quem mais é cometido por deficiências. E a violência doméstica perpetrada contra a mulher é um dos motivos para tal dado existir.

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