O racismo sofrido diariamente por mulheres negras é um tema extremamente delicado que precisa ser discutido. Com o objetivo de aumentar o diálogo e ampliar o número de representantes negras na política institucional brasileira, a campanha mulheresnegrasdecidem.org foi lançada esta semana no Rio de Janeiro em comemoração ao Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, celebrado nesta quarta-feira (24). A meta é estimular mais mulheres negras a participar da política.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras são menos de 1% na Câmara dos Deputados. Dos 513 parlamentares, 52 são mulheres, sendo apenas sete negras, segundo o critério do IBGE, que considera população negra a soma de pretos e pardos.
A presidente do Tucanafro de Alagoas, Tereza Olegário, comentou a importância da plataforma no sentido de dar visibilidade e discutir pautas de mulheres negras.
“É muito importante a gente tocar nesse assunto porque, infelizmente, nós, mulheres negras, acabamos sendo muito invisibilizadas pela falta de oportunidade. As mulheres, de uma forma geral, não têm tantas oportunidades. Nosso intuito agora é fazer com que, principalmente jovens negras possam levantar nossa bandeira, gerando mais igualdade”, afirmou.
A plataforma desmistifica alguns mitos, como “negros não votam em negros”, “mulheres negras, se eleitas, só defenderiam pautas de mulheres negras”, “mulheres negras não têm formação para ocuparem cargos de poder”, entre outros.
Na avaliação de Tereza, a plataforma chega em excelente hora – durante o período pré-eleitoral – promovendo o esclarecimento desses mitos infundados e demonstrando que todos têm igual capacidade de atuar na política e em qualquer área.
“É uma luta que não vem de hoje. Sempre tem aqueles que tentam nos calar e acabam impedindo com que nossa luta avance. A gente está andando, aos pouquinhos, mas caminhando. Precisamos dar visibilidade e conhecimento a esses jovens que estão surgindo para que eles tenham consciência da importância do negro votar em negro”, completou.
O diagnóstico traçado na plataforma indica que apenas 2,51% das despesas de todos os candidatos ao Legislativo em 2014 estava relacionada a candidaturas de mulheres negras e que as chances de elegibilidade são ainda reduzidas.
Para a presidente do Tucanafro-AL, a iniciativa fortalece a luta das mulheres negras pelo fim da desigualdade. “O fundamental é o fortalecimento de todas as mulheres lutarem por uma bandeira só, enfrentando a desigualdade. A maior parte dos parlamentares são homens brancos, então se a gente não se unir e lutar juntas por uma bandeira só, não vamos chegar nunca a uma igualdade. A mudança começa a partir daí. Mulheres negras, deficientes, transexuais, todas juntas”, reforçou.