O próximo dia 17 marca a passagem dos 10 anos do desastre do voo 3054 da TAM em Congonhas, que deixou 199 mortos. Entre as vítimas da maior tragédia da aviação brasileira estava o deputado tucano Júlio Redecker (RS), então líder da Minoria na Câmara. O parlamentar foi uma das principais vozes a favor da instalação da CPI do Apagão Aéreo e um dos maiores defensores da aviação civil no país.
“Em pronunciamento na Câmara na semana anterior, Júlio falou que estava muito perigoso viajar. O acidente foi muito amargo para o Rio Grande do Sul, pois muitos gaúchos morreram com Redecker”, lembra a deputada Yeda Crusius (RS). Na época do acidente, a tucana estava em seu primeiro ano como governadora do estado.
O voo 3054 partiu de Porto Alegre em direção ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Após o pouso, o Airbus atravessou a pista e bateu no prédio da empresa aérea, do outro lado da Avenida Washington Luís, na zona sul da capital paulista. Estavam na aeronave 187 pessoas. Onze pessoas que trabalhavam no prédio da TAM Express e um taxista que estava no posto de gasolina ao lado morreram na colisão, totalizando 199 vítimas. Do total, 98 eram gaúchas.
Yeda afirma que Redecker era um defensor do setor aéreo e vinha cobrando providências, pedindo ao governo que “tomasse vergonha e olhasse para o setor que estava prestes a gerar acidentes”. “Ele era um deputado promissor, não tinha receio de falar a verdade, defendia que se falasse para a população as coisas como elas realmente são, que se falasse a verdade”, recorda Yeda.
A ex-governadora ressalta que no convívio com Redecker era possível enxergar um homem público que almejava seguir na vida política com posições responsáveis. “Era parceiro de todas as horas. Como deputado, era exemplar; e como político do PSDB nos faz muita falta”.
Passados dez anos da tragédia, o número de voos em Congonhas voltou a crescer. O aeroporto, que fica encravado em meio à selva de pedras da maior cidade da América Latina, transporta 20,8 milhões de pessoas por ano (2016), ultrapassando o recorde de passageiros que havia sido registrado um ano antes da tragédia (18,4 milhões).
Hoje, Congonhas é o segundo maior aeroporto em movimento do país, ficando atrás apenas de Cumbica, em Guarulhos. Segundo a Anac, as duas pistas do aeroporto “encolheram” para que “áreas de escape” fossem consideradas no cálculo de segurança do pouso e decolagem. Para pousar, os aviões de carreira devem estar com menos combustível e a pista auxiliar só pode ser usada por eles para decolagens.
Na avaliação da ex-governadora gaúcha, o acidente fez eclodir o caos aéreo no país, que já vinha se instalando, mas não trouxe soluções imediatas. Além das perdas irreparáveis para as famílias e para o país, “o caos demorou para ser equacionado”.
Yeda recorda que, junto a familiares das vítimas, recebeu no Palácio do Piratini o então ministro da Defesa Nelson Jobim. “Exigimos não apenas as reparações em relação ao acidente, que nunca vieram, mas também que fosse colocado às claras que o setor estava em crise. O caos aéreo foi o resultado imediato do acidente e só assim o governo da época começou a ver o que podia fazer”, lamenta a deputada.
A tucana recorda que foi preciso uma tragédia de tamanha proporção para que o governo Lula se visse forçado a mudar regras e regulamentos relativos ao setor aéreo. “Foi um processo muito lento e não fez justiça”, ponderou.
Júlio Redecker tinha 51 anos quando faleceu. Ele estava em seu quarto mandato na Câmara. Era casado com Salete e pai de três filhos: Lucas, Mariana e Victória. Era o líder da Minoria na Casa e, nessa condição, participou, em março, dos plantões que deputados de oposição fizeram nos aeroportos para recolher as 20 mil assinaturas que pediam a instalação da CPI do Apagão na Câmara.
O tucano era um dos políticos mais influentes da Casa e uma voz de oposição firme e constante ao governo Lula. Sua trajetória pública começou na política estudantil. Em 1994, concorreu a deputado federal, alcançou a primeira suplência, e com isso assumiu uma cadeira no Congresso Nacional. Foi o quinto deputado mais votado do estado, em 1998, e o segundo em 2002. Entrou no PSDB em 2003, foi presidente da Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul, além de vice-líder do partido em 2003 e 2006, ano em que foi eleito para o quarto mandato.
*Do PSDB na Câmara