Opinião

Pelo fim do “pacto do silêncio”, por Solange Jurema

O Atlas da Violência 2016 traz uma conclusão assustadora sobre a violência contra mulheres no país: houve um aumento de 111% nos registros de homicídios, de 1980 a 2013, em todo país. A primeira impressão é imaginar que cresceu o número de vítimas e agressores. Mas chamo atenção para uma mudança de comportamento que é mais expressiva, embora lenta e gradual, do que os números mostram de maneira explícita.

O que eu percebo é que as mulheres estão, aos poucos, perdendo o medo e abrindo mão do velho “pacto de silêncio” que antes era tão presente no cotidiano delas e de quem as cercava. Falo isso de maneira categórica de tanto conversar e ouvir relatos nas viagens pelos lugares mais diferentes do Brasil.

Antes, as mulheres não tinham coragem de denunciar, desconheciam como fazer e onde procurar ajuda. Agora, o que assistimos é uma conjuntura a favor da preservação dos direitos da mulher: o vizinho não assiste mais, sem reagir, a agressão e o mesmo ocorre com os parentes e amigos. Ou seja: todos atuam pelo respeito aos direitos humanos das mulheres, mesmo que sem saber ao certo como funciona.

Até os anos 70, havia agressões “por legítima defesa da honra”. Eram homens que batiam e matavam porque não aceitavam o que julgavam ser uma “traição” ou mesmo pelo simples fato de a mulher não ter se mantido virgem para ele. É estranho imaginar que situações como essas levavam à anulação de casamentos e os responsáveis pelos feminicídios eram julgados e libertados num evidente pacto de cumplicidade com esses crimes.

Porém, o passado não pode ser esquecido até porque os dados não permitem, uma vez que, segundo o Atlas de Violência de 2016, 4.757 mulheres foram mortas por agressão em 2014. E de acordo com o mesmo estudo, 13 mulheres são mortas, por hora, no Brasil, e 503 são agredidas a cada 60 minutos. Essa violência tem de parar e cabe a nós tomarmos providências.

Em busca de soluções e alternativas, nós, mulheres do PSDB, temos um encontro marcado para os próximos dias 14 e 15, em São Paulo. As vereadoras vão se reunir, com apoio da Fundação Konrad Adenauer, que atua como parceira do ITV e PSDB Mulher, para capacitar as tucanas a terem mais voz e poder no ambiente político. A disposição é discutir sobre temas de relevância nacional.

Durante o encontro de vereadoras, ocorrerá um treinamento de ação política com ênfase em gênero para as recém-eleitas do PSDB. Unidas, informadas e bem-orientadas, temos tudo para nos fortalecer e impedir o registro de dados alarmantes. A nossa luta é para que, em breve, celebremos a queda dos percentuais de violência contra mulheres em todo país.

*Presidente nacional do PSDB Mulher e ex-ministra da Secretaria Especial de Políticas Públicas para Mulheres no governo Fernando Henrique Cardoso.