Provocado, certa vez, a se pronunciar sobre o radicalismo político pernambucano, o ex-governador Gustavo Krause reagiu com a perspicácia que lhe é peculiar : “ a impressão que se tem é de que o juízo final vai acontecer na Pracinha do Diário”.
Na época em que Krause cunhou esta frase vivia-se em Pernambuco um período conturbado na segurança pública que redundou na troca de tiros entre policiais civis e militares na Pracinha, dando a impressão de uma verdadeira guerra civil.
Os tempos passaram, civis e militares acabaram deixando as rusgas de lado, mas o problema da segurança nos atormenta há pelo menos duas décadas, matando cada vez mais jovens – em especial pretos – residentes, sobretudo nas periferias da Região Metropolitana e do Interior.
Para se ter uma ideia do tamanho desse problema e da convicção de que será muito difícil resolvê-lo basta uma informação. Em 2004, há exatos 13 anos, foram assassinadas 4.194 pessoas no estado e em 2008 o número chegou a 4.528.
Durante o Pacto pela Vida e um esforço monumental de todos os poderes constituídos, sob a liderança do Governo do Estado, esses números conseguiram ser reduzidos a até 3.100 assassinatos em 2013, mas nos últimos anos voltaram a crescer e chegaram a fatídicos 4.479 em 2016. Em 2017, nos três primeiros meses, os assassinatos passaram da casa dos 1.500. Um Deus nos acuda.
Onde está o cerne dessa questão? Até hoje não se conseguiu responder, embora esteja claro que o crime organizado e o tráfico de drogas são cada vez mais responsáveis por nos colocar na situação vergonhosa de um dos estados mais violentos do país.
Uma coisa, porém, salta aos olhos. Embora quase todos os 49 deputados estaduais já tenham sido Governo ou oposição nos últimos 20 anos no estado e nenhum dos governos que eles apoiaram deu um jeito na segurança, o debate na Assembléia em relação à segurança continua radical, raivoso e, algumas vezes, inconsequente.
E quem tem se aproveitado disso? Exatamente os criminosos. Estamos todos cansados de saber que sempre que o debate da segurança vem átona mais assassinatos são acrescentados às estatísticas. Em cada movimento grevista nessa área, em geral aproveitados pelos parlamentares para jogar pedras no governante do dia, mais pessoas morrem.
Sentindo a classe política dividida, os assassinos se tornam mais poderosos e ocupam o lugar da lei.
Talvez tenha chegado o momento de Pernambuco se unir em torno desse tema. Há muito o que combater além da segurança e não se justifica que seja ela a Geni da área política.
Segurança é vida. Os jovens que morrem aos milhares clamam por providências e não por bate-bocas. Nessa questão da segurança, examinando os números, temos todos nós, partidos políticos, telhado de vidro.
Quem é Governo foi oposição ontem. Quem é oposição hoje pode ser Governo amanhã e não dá mais para ignorar essa herança maldita que tem vitimado várias gerações enquanto a classe política faz ouvidos de mercador.
*Terezinha Nunes é deputada estadual e presidente do PSDB Mulher de Pernambuco