Embora os brasileiros estejam cada vez mais acostumados a viver na corda bamba dos escândalos diários, até o momento – é sempre bom ressaltar – nada parece igualar a semana que se encerra nesta sexta-feira, 16 de setembro, que veio contradizer os que achavam que depois do impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil retomaria a normalidade.
A segunda-feira (12) veio em ritmo de quarta, com quórum suficiente na Câmara dos Deputados para impor ao agora ex-deputado federal Eduardo Cunha uma cassação acachapante, embora esteja em perigo de se ferir quem ponha a mão no fogo afirmando que ele está morto. Em se tratando de Cunha…
Na mesma segunda foi dia de assistir à posse da ministra Cármen Lúcia, que assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal, encerrando o controverso mandato do ministro Lewandowski, um tanto chamuscado pela criativa interpretação do Art.52 da Constituição Federal, durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Como nada é melhor para esquecer um constrangimento antigo do que um novo, o discurso do ministro Celso de Mello parece ter sido feito de encomenda para os ouvidos moucos dos ex-presidentes Lula e Sarney, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e o presidente do Senado, Renan Calheiros.
Terça-feira veio com péssimas notícias econômicas, com o IBGE avisando que o comércio sofreu, em 2015, a maior queda em 15 anos, o que significa que a confiança do consumidor brasileiro anda no fundo do poço. A decisão dos quatro países fundadores do Mercosul, de conduzir de forma colegiada a presidência do bloco, e impor sanções à Venezuela caso o país não se adeque às normas democráticas do estatuto até 1º de dezembro também foi notícia.
Na quarta-feira (14), o Brasil parou para assistir a coletiva em que os procuradores da Operação Lava-Jato denunciaram o ex-presidente Lula, sua mulher, Marisa Letícia e mais seis pessoas, de envolvimento no Petrolão. Pior, segundo o procurador Deltan Dallagnoll: “Lula era o comandante máximo do esquema de corrupção identificado na Lava-Jato”.
Quinta-feira ninguém respirou. O país assistiu à declaração de Lula, fantasiada em coletiva, em que o ex-presidente, durante uma hora foi mais ele do que nunca. Posou de vítima, disse que os funcionários concursados são menos honestos do que os políticos – e comprou briga com uma categoria inteira -, pediu veladamente que os procuradores petistas interferissem nas investigações da Lava-Jato, conseguiu se comparar a Juscelino e a Jesus Cristo, chorou, ameaçou e, principalmente, faltou com a verdade. Só não pensou em explicar as denúncias, graves, de que foi alvo.
Para piorar o dia do PT, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel e Marcelo Odebrecht foram indiciados pela Polícia Federal por corrupção no BNDES.
No final da tarde os brasileiros se comoveram com a morte inesperada de Domingos Montagner. O país carente de heróis acusou o golpe de ver morrer um ator boa gente, de caráter, querido por quem o conheceu.
Enfim chegou a sexta-feira (16), e entre a repercussão das declarações do ex-presidente e as análises da situação jurídica em que ele e Eduardo Cunha se encontram, enfim uma notícia positiva. O mestre Luís Fernando Verissimo, último bastião intelectual de peso da resistência de apoio ao PT jogou a toalha e declarou hoje a Sonia Racy: “Sou um esquerdista desiludido”. Ainda há esperança.
Beatriz Ramos é cronista e responsável pelas redes sociais do PSDB Mulher Nacional.