Mais obrigações e direitos. Simples assim
Rita Lisauskas
09 Agosto 2016 | 15h00
Claro que nem todo homem é bom pai. Assim como nem toda mulher é boa mãe. A diferença é que de nós, mulheres, é esperado tudo e deles, o mínimo, ou seja, quase nada. Se trocarem uma fralda de vez em quando e tirarem uma fotinho com a cria pro Facebook, já chovem elogios de paizão do ano. Já a mulher tem que dar conta de tudo e ai dela se atrasar para a apresentação de futebol do filho na escola, que mulher horrível, essaê não está preparada pra ser mãe, não consegue abrir mão de nada, custava ter saído mais cedo do trabalho?
Sabe o que os pais merecem ganhar de presente das mães nesse dia dos pais? Mais obrigações. Isso mesmo. Quando uma criança nasce, eles, e não só elas, estão comprometidos com aquela nova vida pra sempre. Claro que alguns homens vão chiar, esperavam um suéter, um par de meias ou um barbeador elétrico, mas outros vão adorar o presente, porque amam ser pais. E eles são bons, não duvidem. Além de buscar no futebol, no ballet, na natação e ir às reuniões da escola, encaram os lençóis sujos de vômito, as calças respingadas de sopa, o banho, o jantar, as historinhas, colocam para dormir e também levantam mil vezes na madrugada. Dê esse presente ao pai do seu filho e todos ganham, inclusive e, nossa, principalmente, você. Vai por mim.
Sabe o que os pais merecem ganhar dos shoppings, aeroportos, e espaços públicos? Banheiros masculinos com trocadores de fralda. Esse presente fará com que os homens possam sair sozinhos com as crias sem se aborrecer. Conheço um pai que precisou pedir ajuda de uma mulher que não conhecia, nunca tinha visto mais gorda, para trocar a fralda do filho. Arrepiei só de imaginar a angústia que ele passou ao entregar o filho para que uma desconhecida fizesse o que ele sabia fazer mil vezes melhor: limpar o bumbum do seu bebê enquanto fazia barulhinhos engraçados. Ela topou a tarefa, claro, mas ele se sentiu péssimo, derrotado, uma droga de pai. Sim, eles também se sentem assim às vezes.
Sabe o que os pais merecem ganhar das empresas e do poder público? Uma licença paternidade mais extensa. Ficar apenas cinco dias em casa com a mulher e o filho é a piada do século, considerando que o casal e a criança passam os três primeiros dias no hospital. Que o recém-nascido precisa mais da mãe do que qualquer outra pessoa no mundo não há dúvidas. Mas a mulher precisa do parceiro (casa, comida e roupa lavada), enquanto foca exclusivamente no bebê. Já há empresas que começaram a aumentar esse período, justiça seja feita, mas tudo muito longe do que é oferecido na Suécia, por exemplo, onde o casal pode dividir uma licença de um ano e quatro meses, desde que o pai fique pelo menos três meses com o filho, afinal pai não ajuda, pai cria junto.
Sabe o que os pais merecem ganhar da justiça? Mais tempo com os filhos, mesmo quando o casamento acaba e o divórcio é inevitável. Por que a guarda compartilhada, mesmo sendo lei, ainda é ignorada solenemente pela justiça? “As crianças ainda são muito pequenas”, alegam os juízes. Mas, ué? Não é por isso mesmo que elas precisam passar um tempo igual na companhia do pai e da mãe? Nem amamentação pode ser desculpa para pais e filhos ficarem separados, o marido de uma amiga deu um curso dia desses para pais que queriam aprender a dar leite materno no “copinho”, evitando a mamadeira e um possível desmame do bebê.
Claro que depois de tantos presentes eles podem querer ganhar algo comprado no shopping, ninguém é de ferro. Os homens não são nada sutis, sempre dão a entender o que querem ganhar no dia dos pais. O que mora aqui em casa, pai de três, já lutou por direitos e por guarda compartilhada e, cansado depois de vencer todas as batalhas, deu a entender que agora quer alguma mais simples, só uma mochila nova, de couro (a gente entendeu a mensagem e vai comprar, papai).
*Publicado originalmente na edição desta terça-feira do jornal O Estado de S.Paulo