A era do PT no governo, que deverá chegar ao seu ponto final nessa quarta-feira (11), foi marcada por escândalos de corrupção de proporções épicas, com o ‘Mensalão’ e o ‘Petrolão’. Mas a herança maldita que o partido deixará ao final de mais de 13 anos no poder vai muito além. Desde o início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, até o processo de impeachment que deve levar ao afastamento da presidente Dilma Rousseff do cargo, em 2016, foram inúmeros os escândalos de favorecimentos e vantagens indevidas, propinas, gastos abusivos, superfaturamentos e desvio de dinheiro público, tráfico de influência e estelionato eleitoral.
“Nunca antes na história deste país” era o bordão repetido à exaustão pelo ex-presidente Lula na tentativa de exaltar as realizações de seu governo. A frase, com as devidas alterações, se aplica bem ao atual cenário de crise política, econômica e social que o Brasil enfrenta: ‘Nunca antes na história deste país’, o Brasil viu tantos escândalos de corrupção.
Relembre apenas os mais emblemáticos:
Mensalão: Em 2005 veio à tona o mensalão, maior escândalo de corrupção de que se tinha notícia. Descobriu-se como o governo Lula mantinha sua ampla base aliada no Congresso: com pagamentos mensais a parlamentares. O escândalo derrubou o então poderoso ministro da Casa Civil, o petista José Dirceu, que ainda teve o seu mandato de deputado federal cassado. Entre os 25 réus condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) também estavam outros petistas, como o ex-presidente do partido José Genoino; o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha; e o ex-tesoureiro Delúbio Soares.
A quebra do sigilo do caseiro Francenildo: Em depoimento em 2006, o caseiro Francenildo Santos Costa, que trabalhava para o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, revelou que patrão frequentava festas com garotas de programa organizadas por assessores que o acompanhavam desde a época em que foi prefeito de Ribeirão Preto. Segundo ele, os presentes distribuíam entre si dinheiro desviado dos cofres públicos. Na tentativa de desqualificar o algoz do ministro, o sigilo bancário de Francenildo foi quebrado e vazado para a imprensa, registrando um depósito de R$ 38 mil, e levantando suspeitas de que ele poderia estar à serviço da oposição. Mas a teoria caiu por terra após a revelação de que o dinheiro tinha vindo do pai do caseiro. A violação do sigilo bancário culminou na queda de Palocci e do então presidente da Caixa, Jorge Mattoso.
Os aloprados na campanha de 2006: Pouco antes das eleições, a Polícia Federal prendeu um grupo de petistas flagrado negociando a compra de um falso dossiê que tentava vincular o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, e o então candidato à Presidência da República, o tucano Geraldo Alckmin, ao “Escândalo dos Sanguessugas”, que fraudou licitações para a compra de ambulâncias. Entre os réus, estavam Hamilton Lacerda, ex-assessor do petista Aloizio Mercandante, que também concorria ao governo de São Paulo, Gedimar Pereira Passos, então assessor da campanha à reeleição do ex-presidente Lula, e Valdebran Padilha, filiado ao PT. A PF também apreendeu R$ 1,7 milhão com os petistas.
O gasto recorde com cartões corporativos no governo Lula: O uso indevido dos cartões foi recorde no governo Lula. Em 2008, diversos ministros foram flagrados usando os cartões para pagar supérfluos em viagens, lojas e restaurantes. Entre os envolvidos estavam os ministros Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, Altemir Gregolin, da Pesca, e Orlando Silva, do Esporte. Silva, por exemplo, chegou a usar o cartão para pagar até uma tapioca.
O tráfico de influência de Erenice Guerra: Em 2010, a sucessora de Dilma Rousseff no comando da Casa Civil, Erenice Guerra, acabou afastada do cargo após denúncias ligarem seu filho, Israel Guerra, a um suposto esquema de cobrança de propina para intermediação de projetos privados junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os Correios e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mais recentemente, Erenice foi citada na delação do ex-líder do governo Delcídio Amaral como tendo sido a principal operadora do esquema que desviou R$ 45 milhões das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
As consultorias milionárias de Palocci: Após a eleição de Dilma Rousseff em 2010, Antonio Palocci voltou ao primeiro ano do governo do PT, desta vez como chefe da Casa Civil. Mas não durou muito e acabou obrigado a pedir demissão após a revelação pela imprensa de que o seu patrimônio havia se multiplicado 20 vezes entre 2006 a 2010 – graças a consultorias milionárias que Palocci teria prestado, coincidentemente, no mesmo período em que coordenou a campanha de Dilma à Presidência. Um faturamento de nada menos do que R$ 20 milhões.
Os negócios suspeitos de Pimentel: Em 2011, o país descobriu novas consultorias milionárias, desta vez do então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e hoje governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Entre 2009 e 2010, ele recebeu R$ 2 milhões por meio de sua empresa P-21 Consultoria e Projetos. Alvo agora da Operação Acrônimo, da Polícia Federal, Pimentel corre o risco de ser afastado do cargo de governador, caso o Superior Tribunal de Justiça acate denúncia da Procuradoria Geral da República contra ele pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por conta de seu envolvimento em esquema de financiamento ilegal de campanhas do PT.
Rosemary Noronha, a chefe de gabinete de Lula e Dilma: Em 2012, a Operação Porto Seguro desarticulou um esquema de venda de pareceres técnicos fraudulentos em órgãos federais. Entre os envolvidos destacou-se a então chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo e amiga pessoal do ex-presidente Lula, Rosemary Noronha. Seis pessoas foram presas e 19 foram indiciadas por formação de quadrilha, tráfico de influência, falsidade ideológica e corrupção ativa e passiva.
Petrolão: A Operação Lava Jato desvendou para os brasileiros o maior escândalo de corrupção já visto no país. O esquema envolvendo diretores da Petrobras, empresários, dirigentes partidários e integrantes do primeiro escalão do governo provocaram prejuízos milionários à Petrobras, que só em 2014 somaram R$ 22 bilhões. Parte do dinheiro desviado da empresa serviu para abastecer as campanhas eleitorais de Lula e Dilma por meio de doações oficiais e não contabilizadas. O avanço das investigações levou para a cadeia vários petistas, como o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, já condenado a dez anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro. A lista de presos incluiu também o ex-marqueteiro do PT João Santana e sua mulher, Mônica Moura. O ex-líder do governo Delcídio do Amaral foi outro que parou na cadeia após ser flagrado, em gravação, oferecendo dinheiro e rota de fuga para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, em troca de seu silêncio. Na prisão, Delcídio seguiu os passos de Cerveró e também negociou sua delação premiada revelando que agiu a mando de Lula e Dilma. Dias depois, o ex-presidente Lula acabou conduzido coercitivamente para depor na PF. Temendo que seu antecessor acabasse preso, Dilma tentou garantir a Lula foro privilegiado ao nomeá-lo ministro chefe da Casa Civil. Mas a nomeação acabou suspensa pelo Supremo Tribunal Federal.