As gigantescas manifestações de ontem em todo o Brasil dispararam a contagem regressiva para o fim formal – uma vez que, na prática, ele já não existe – do governo de Dilma Rousseff. Se alguém ainda tinha dúvidas, ficou claro de uma vez por todas que a maioria absoluta do país não suporta conviver por mais tempo com o PT no poder. Acabou.
As dimensões dos protestos variam de acordo com as fontes. Segundo as mais comedidas, 3 milhões de pessoas foram às ruas; os mais otimistas calculam em 6,5 milhões. Realisticamente, dá-se de barato que em torno de 5 milhões de brasileiros saíram de casa para manifestar sua indignação, seu repúdio à corrupção e seu apoio ao trabalho das instituições que estão passando o país a limpo.
Nunca antes na nossa história um protesto mobilizou tanta gente. Nunca antes na história, aconteceu em tantos locais simultaneamente, em todo o país – em mais de 200 cidades – e também no exterior. Não se concentrou apenas nos grandes centros, espalhou-se pelo interior, por todas as regiões, por todos os estados. Atraiu mais gente do que a maior manifestação anterior, ocorrida um ano atrás. Sempre pacificamente, ordeiramente.
O governo fez a parte dele, desdenhando da disposição do povo para reclamar. Agiu como se só existissem as massas de manobra bovinas guiadas por líderes populistas. Achou que a capacidade de mobilização dos brasileiros não resistiria às promessas vazias da presidente e, principalmente, às ameaças de ataque das jararacas. Perdeu.
O país não está dividido; está unido contra o PT. O que ontem se viu nas ruas foi a marcha da cidadania, avivada pela sociedade civil, estimulada pela força de valores que foram sistematicamente aviltados ao longo da última década. O país de verdade, não o Brasil do PT.
Os brasileiros foram às ruas mostrando que são maioria. Deixando claro que não se deixam seduzir pelo marketing enganoso. Avisando à presidente, ao partido dela e a seu tutor, Lula, que, diferentemente do que eles pregam, os cidadãos do país não toleram a corrupção, não acham que ela esteja sendo praticada em nome de uma causa nobre, nem admitem que os que mais se locupletaram da roubalheira posem de almas “mais honestas” que existem.
A parte que lhe cabia o povo brasileiro fez. Agora correrá o tempo da política, sem a qual nenhum processo popular tem como prosperar, dentro das regras constitucionais. Espera-se já para esta semana a retomada dos ritos de afastamento de Dilma Rousseff, com a perspectiva cada vez mais palpável de que estejam concluídos em 45 dias. Diante disso, de nada irá adiantar o governismo colocar seus gatos pingados nas ruas na próxima sexta-feira. Alguma razão pelo menos os defensores do governo têm: sim, não vai ter golpe. Vai ter impeachment.