“Se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes” (Isaac Newton). Sim, foi devido à garra e à fibra de inúmeras mulheres que hoje posso ter minha voz ouvida, minhas posições respeitadas, meus resultados medidos pela minha própria capacidade e esforço. Se outrora o papel social da mulher era demasiadamente restrito e subjugado, hoje realmente me sinto como uma que tem plena capacidade de atuar em nível de igualdade com qualquer homem, tendo acesso, inclusive, às mesmas oportunidades que eles. Acredito que não serei impedida de realizar meus objetivos e projetos pessoais, ou de fazer valer minhas ideias em face do meu gênero. Até porque, vejo à minha volta mulheres admiráveis e inspiradoras que galgam a cada dia mais respeito e confiança da sociedade, sepultando silenciosamente o estigma fragilizado da “mulher de antigamente”.
Não se pode olvidar, contudo, que esse nível de independência e igualdade não chegou ainda a todas as esferas da sociedade. Remanescem ainda inaceitáveis casos de violência familiar, doméstica e no trabalho contra a mulher. A título de exemplo, somente nos dez primeiros meses de 2015, do total de 63.090 denúncias de violência contra a mulher, 31.432 corresponderam a denúncias de violência física, 19.182 de violência psicológica, 4.627 de violência moral, 1.382 de violência patrimonial, 3.064 de violência sexual e 3.071 de cárcere privado. Segundo o Mapa da Violência, no período de 1980 a 2010 foram assassinadas no País 92 mil mulheres, sendo 43,7 mil só na última década. Assim, percebe-se que ainda há muito a percorrer no caminho do respeito e da valorização da mulher. Portanto, tais casos devem ser tratados com toda atenção e sensibilidade que merecem, para que não sejam minimizadas situações tão traumáticas e repudiáveis. A sociedade e a política devem estar atentas a tais agressões, formulando e efetivando políticas públicas que realmente somem esforços para enfrentar essa questão.
Não obstante esse problema não atinja toda a sociedade, há sim um ranço social generalizado ainda impregnado nos pequenos detalhes dos nossos papéis e comportamentos, mas que devem ser combatidos com uma atitude de coragem e equanimidade. A mera atitude combativa, desmerecendo a figura masculina para resgatar autoconfiança feminina não parece ser o melhor meio para resolver o problema, muito menos atitudes extremistas. Não precisamos mais queimar sutiãs – graças às nossas antecessoras –, mas devemos lutar cotidianamente por um tratamento com igual consideração e respeito de todos os indivíduos, buscando primeiro nossas semelhanças antes de apontar as diferenças. Sem contar que é preciso que nos questionemos sempre: por que isso é adequado ou inadequado para uma mulher fazer? Respeitar esses padrões contribui para a minha realização pessoal? Não devo fazer algo pelo fato de eu ser mulher? Questionamentos do tipo auxiliam no esfacelamento de condicionamentos desnecessários criados pela sociedade e contribuem para a construção de uma sociedade na qual a mulher é devidamente valorizada por suas qualidades e capacidades.
*Débora Costa Ferreira é bacharel em Ciências Econômicas (UnB,2014) e em Direito, pós-graduada em Direito Constitucional (IDP, 2015) e mestranda em Garantias e Direitos Fundamentais (IDP).