Brasília – Seis meses após o nascimento do “paciente zero”, na epidemia de microcefalia que assola o Brasil e coloca em alerta o mundo, a população desamparada convive com perguntas não respondidas, atendimento ineficiente aos mais de quatro mil casos, entre suspeitos e confirmados pelo Ministério da Saúde no dia 2 de fevereiro.
Em meio a medidas de pouca efetividade, como a promessa de fornecer um salário mínimo a cada família carente que tenha um bebê nascido com microcefalia – como se este valor fosse suficiente para garantir os cuidados necessários para o desenvolvimento de uma criança microcéfala -; começam a chegar do Nordeste, principal foco da epidemia, notícias alarmantes. Em Pernambuco homens principiam a abandonar mães de bebês com essa condição, muitas delas ainda na maternidade.
A falta de apoio psicológico e material por parte do Estado, talvez explique essa tragédia que ameaça condenar a uma sobrevivência miserável, famílias lideradas por mulheres já na linha da pobreza extrema.
Para a pediatra Cynthia Carvalho Mesquita, especialista em neonatal de risco, ou seja, em tratar de bebês que nascem em condições de saúde extremamente precárias, antes de pedir união em torno da guerra contra o Aedes Aegypti faltou ao governo federal garantir políticas de saúde eficientes para que essas crianças tenham condições mínimas de saúde. “São bebês que necessitam de fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neurologistas, pediatras, ou seja, equipes multidisciplinares bem estruturadas. Uma estrutura que de modo algum a doação de uma bolsa família vai resolver. Temos que nos preocupar, e muito, com uma geração perdida”.
Segundo a fonoaudióloga e pedagoga carioca Maria Cristina Sant’Anna, a estimulação deve começar desde o período da internação, após o nascimento. “É importantíssimo estimular a sucção e a respiração do bebê microcéfalo, orientar a mãe sobre a importância da amamentação, que está intimamente ligada à capacidade da criança articular as palavras. Esse estímulo deve ser feito junto com a fisioterapia respiratória.”
Para a profissional, bebês portadores de microcefalia deveriam ser encaminhados o quanto antes para um centro de reabilitação onde teriam acompanhamento multidisciplinar, “soube que existem crianças de quatro meses à espera de tratamento, essa omissão é criminosa”.
Enquanto vozes se erguem em todas as áreas, para pedir que a epidemia de zyka e os bebês com microcefalia sejam tratados com mais eficiência e respeito, a OMS divulgou nesta quinta-feira (04/02) que o Brasil sonega amostras de zyka para pesquisa no exterior.
Segundo uma autoridade americana, o material enviado até agora “não é suficiente para desenvolver testes precisos para o vírus ou determinar se o zika está de fato por trás do recente aumento no número de casos de defeitos congênitos.”
Essa falta de cooperação, causada pela burocrática legislação nacional, contribui para aumentar as dúvidas que atordoam os brasileiros, incapazes de se defender do que nem sabem ao certo que os está atacando.