Nem poderíamos. A segunda-feira veio como promessa de renovação que as urnas – de votos impressos, não eletrônicas inauditáveis – trouxeram à América Latina, gritando aos quatro ventos que Maurício Macri é o novo presidente da Argentina, interrompendo uma dinastia kirchnerista que parecia invencível. “Se eles podem, por que não nós?”, pensaram todos os brasileiros.
A esperança foi rapidamente vencida pelo medo de um mosquito; Aedes aegypti, que ignorado pelas políticas sanitaristas de um governo omisso, agora parece estar ligado a um surto de microcefalia, além da transmissão dos já conhecidos dengue, febre Chikungunya e vírus Zyca; e pelo impacto do maior desastre ambiental por rejeitos tóxicos da História – estamos ficando bons em recordes mundiais negativos -, com a desoladora imagem do mar de lama da barragem da Samarco invadindo o Oceano Atlântico.
Na terça-feira o PT abandonou Eduardo Cunha e Deus parece haver abandonado Lula, ao permitir a prisão de seu amigo mais próximo, o pecuarista José Carlos Bumlai, em Brasília. Embora os jornais destaquem que nada existe que incrimine o ex-presidente, a detenção do único amigo que tinha passe-livre para visitar o ex-presidente no Palácio do Planalto sem marcar agenda prévia traz a Lava Jato para muito perto dele, perto demais.
Novo dia, novo golpe. O líder do governo no Senado, Delcício Amaral foi preso às 6h30 da manhã de quarta-feira por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascky, sob a acusação de obstruir as investigações da Lava Jato e tentar impedir a delação premiada de Nestor Cerveró. Também foram presos o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, o chefe de gabinete do senador, Diogo Ferreira Rodrigues, e o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro.
Primeiro senador da República a ser preso em flagrante por crime continuado – oferta de fuga a um preso -, Delcídio Amaral teve sua prisão confirmada na noite de quarta-feira pelo plenário de um Senado Federal constrangido, porém firme, em uma sessão histórica contra a impunidade que enlameia o Brasil.
Quinta-feira veio de cinzas e medo para quem, como o governo, tem muito a perder com uma eventual delação premiada do político preso; ou os ribeirinhos de Minas Gerais e Espírito Santo, que até hoje estão sem saber a composição exata da lama tóxica que matou o Rio Doce e a esperança de uma vida decente para as futuras gerações de suas famílias.
Hoje acordamos para ler nos jornais que prisão de Delcídio pode parar a máquina pública – como se estivesse funcionando -, que o vírus da microcefalia chegou a São Paulo e ao Rio de Janeiro, que o IBAMA embargou a barragem de Fundão quatro meses antes da tragédia em Mariana, após comprovar que a Samarco desmatara mais do que o permitido (mas não notificou a mineradora), e que a desigualdade de renda aumentou no Brasil.
Há muito a lamentar e as notícias desta sexta-feira mostram isso, mas sempre que der vontade de chorar vamos lembrar de uma quarta-feira, 25 de novembro, em que Senado e Supremo Tribunal Federal, nas palavras da ministra Carmem Lúcia, mostraram que o crime não vencerá a Justiça.
Sempre que a desesperança vier, olharemos para a Argentina, e veremos na eleição de Macri o nosso futuro, pensando: se eles puderam, por que não nós?
Secretariado Nacional da Mulher/PSDB