Parece que a ficha começou a cair para a presidente Dilma Rousseff. Mas ainda é cedo para saber se o ensaio da admissão de erros e se a adoção atrasada de medidas há muito defendidas pela oposição são iniciativas sinceras ou, mais provavelmente, meras tentativas de desviar o foco da crise que se agiganta. Uma coisa é certa: vieram tarde demais.
Em entrevista a três dos principais jornais do país, Dilma finalmente reconheceu que errou e, mais que isso, foi lerda para perceber a encrenca em que afundou o país. Sua admissão é patética, ao desnudar o despreparo da petista para presidir uma nação como o Brasil. Vindo de quem não conseguiu manter aberta nem uma quitanda de R$ 1,99, não é de causar surpresa…
Sempre precedido de um “talvez”, ela disse que seu erro foi “ter demorado tanto a perceber que a situação podia ser mais grave do que imaginávamos”. “Nós levamos muito susto. (…) Meu erro foi não ter percebido prematuramente que a situação (do gasto público) seria tão ruim como se descreveu”. São frases lapidares: a confissão da incompetência.
A entrevista de Dilma foi convocada de última hora, em paralelo a outro movimento mambembe: o anúncio do corte de ministérios e cargos comissionados. Tudo rescendendo a improviso. Nem ela nem seus ministros foram capazes de apontar o que e quando será limado. O que interessa, neste momento, é apenas criar uma cortina de fumaça para disfarçar o desgoverno.
Infelizmente, Dilma chega tarde a conclusões há muito tiradas pela oposição. Que o Estado é balofo, ninguém, exceto os apadrinhados do PT, questiona. Que a máquina pública é ineficiente, ninguém tem dúvida. Na campanha eleitoral do ano passado, este diagnóstico foi fartamente apontado pela oposição. Em resposta, Dilma sempre classificou a diminuição do aparato estatal de “cegueira tecnocrática” e de “lorota”.
A conversão tardia da presidente acontece no mesmo momento em que seus principais esteios no exercício do poder se esvaem. Michel Temer devolveu ontem a articulação política à presidente, depois de quatro meses de muito desgaste e pouco resultado. Também pendurado por um fio, Joaquim Levy pediu refresco e foi para os EUA, ver a família. Só restou Renan Calheiros, não se sabe até quando.
A entrevista de Dilma e as ações improvisadas de seu governo deixam claro, de uma vez por todas, a maneira inepta com que ela e seu partido vêm comandando o país. O Brasil foi feito de laboratório por aprendizes de feiticeiro e o povo, transformado em cobaias de experimentos. Deu tudo errado: perdeu-se tempo demais e o país agora está às voltas com dificuldades imensas, agravadas pela crise que se anuncia na China.