Brasília (DF) – Um raro faroeste em que a personagem feminina conduz a trama, este filme tem uma pegada feminista e merece uma conferida atenta.
O filme se passa no de 1854. Por mais que seja forte e independente, Mary Bee Cuddy (Hilary Swank) guarda profunda mágoa pela solidão em que vive. Contratada para levar três mulheres insanas até o Iowa, onde poderão viver em paz, no caminho, encontra Georges Briggs (Tommy Lee Jones), criminoso que tem a vida salva por ela. Em retribuição, ele a acompanha e ajuda em sua viagem. Leia a crítica de Francisco Russo.
Quatro mulheres e um destino
De Francisco Russo
Tommy Lee Jones ganhou fama graças ao semblante sisudo e muitas vezes rabugento, tão bem explorado na série Homens de Preto e em O Fugitivo, que lhe rendeu o Oscar de ator coadjuvante. Em Dívida de Honra ele não apenas está novamente diante das câmeras como acumula também a tarefa detrás delas, em um de seus raros trabalhos como diretor. O resultado é um filme que no formato remete aos clássicos do faroeste, especialmente aqueles dirigidos por John Ford, mas com uma pitada de ousadia ao trazer uma mulher para o posto de coprotagonista.
A trama acompanha Mary Bee Cuddy (Hilary Swank), uma solteirona que recebe a tarefa de levar três mulheres enlouquecidas para um abrigo em outra cidade. Corajosa e determinada, ela embarca em sua jornada e, no caminho, salva um criminoso abandonado para morrer (Lee Jones). Em troca, ela exige que a acompanhe e cuide da proteção do quarteto. Afinal de contas, o período retratado é o Velho Oeste, época rodeada de caubóis e índios cujo lugar da mulher é pré-determinado: dentro de casa, cuidando da família.
A presença de uma imponente personagem feminina não apenas surpreende como traz à trama nuances que fogem do habitual do gênero. Seja pelos traumas sofridos pelas passageiras ou pela angústia aos poucos revelada por Mary Bee, associando sua posição decidida à dor de não ter alguém ao seu lado, o filme aborda questões femininas com a delicadeza possível – estamos no Velho Oeste, terra de durões, não se esqueça. Além disto, o roteiro chama a atenção pela inusitada mudança de protagonista no decorrer da trama, surpreendendo o espectador, e pelo fato de que Lee Jones está bem mais leve que o habitual, apresentando um toque de humor sem que esteja ligado ao seu habitual ar carrancudo. Ele até dança!
Em meio a tantas ousadias, Dívida de Honra ainda investe em características tradicionais do gênero: as amplas paisagens, captadas pela bela fotografia de Rodrigo Prieto, a envolvente trilha sonora de Marco Beltrami e o road movie (agora a bordo de uma diligência), onde os personagens principais passam por um processo de descoberta e transformação. As boas atuações de Swank e Lee Jones potencializam a narrativa, auxiliados pelas participações luxuosas de Meryl Streep e Tim Blake Nelson. Bom filme.
*Filme visto no 67º Festival de Cannes, em maio de 2014.
**Fonte: www.adorocinema.com