Opinião

“A mulher ativista e o desafio de atuar na política”, por Martha Raquel Alves Leitão

“Assumir o protagonismo na participação política requer que sejamos atuantes em relação a nossos interesses imediatos e mediatos”

Acredito que o primeiro grande desafio da participação da mulher na política é o reconhecimento enquanto sujeito político. Movimentos autogestionários, como ativistas, por exemplo, organizam-se por objetivos em comum, e é o embate de idéias e o diálogo que culminam com resultados. A mulher ativista, ao participar da política, opinando e propondo em relação aos objetivos em comum, também contribui para a consecução dos objetivos. Ou seja, é na relação sujeito e coletividade que ocorre a
participação política. 
Além do reconhecimento enquanto sujeito político, um dos grandes desafios da mulher é conseguir apoio para projetos de ativismo. Portanto, é importante termos a inequívoca percepção de que assumir o protagonismo na participação política requer, além de nossos compromissos pessoais e profissionais, que estejamos engajadas em relação a nossos interesses imediatos e mediatos, de modo que a questão de gênero não seja um fator excludente.

Quando em 1997 (e em oito anos posteriormente) tornei-me representante de classe pela primeira vez, fui eleita por alunos, colegas de classe no ensino fundamental. A participação envolvia desde o diálogo quanto  ao asseio da sala de aula, o bom funcionamento das instalações da escola, até questões comportamentais no relacionamento professor e aluno. Naquele ambiente escolar, praticava esportes e não tinha a mínima  intenção de arrefecer expectativas, não importasse quantas vezes quem quer que fosse insinuasse ou dissesse que isto ou aquilo não era “coisa de menina”. Assim era no futebol, assim era na representação discente. No ensino médio, a representação discente começou a possibilitar cada vez mais o diálogo com “adultos”, inclusive com a coordenação e a diretoria da escola, além de representantes de outras classes. Nossos embates passaram a incluir interesses de pesquisa e possibilidades de atividades escolares.

Na faculdade, o diálogo abrangia, além da sala de aula, interesses como bolsa de estudos, participação no Diretório Acadêmico, além da comunicação entre os estudantes, e entre a instituição e os alunos. Tempos depois, já formada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, assumi a Coordenação da Comissão de Assistência Judiciária da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de São Paulo, Subseção de Santo Amaro, na qual cumpria-me, no exercício de prerrogativas e funções, zelar pelo bom cumprimento do Convênio entre a Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de São Paulo, e a Defensoria Pública do
Estado de São Paulo, inclusive mediante as medidas necessárias em âmbito institucional e através de palestras. No decorrer destes trinta anos de vida, vez ou outra, algo acontece e faz com que eu lembre que ser mulher é ter a coragem de se propor uma série de conquistas que, entretanto, a sociedade, por vezes, considera, mesmo hodiernamente, tipicamente masculinas. Foi assim que me senti quando abracei o empreendedorismo. Em um momento de dificuldades, dediquei-me ao comércio ambulante. De fato, pela manhã, nós, mulheres, somos a maioria nas bancadas de café com bolo, no comércio de produtos artesanais e semi-artesanais. Mas, naquele momento, também não deixei de me propor ao desafio de
ingressar em ambientes majoritariamente masculinos, os ambientes do período da tarde e da noite no comércio ambulante, com produtos industrializados. Sempre podemos ir além de paradigmas.

Desde 2011, no ativismo em direitos humanos, o desafio de ser mulher também está presente. A dificuldade de conseguir apoio para projetos  de ativismo, de conciliar a agenda de ativismo com outras agendas pessoais e profissionais, e ter reconhecida a atuação enquanto sujeito político na sociedade: participar é um avanço, mas há desafios. Mesmo os movimentos autogestionários, como ativistas, organizam-se por objetivos em comum, e é o embate de idéias e o diálogo que culminam com resultados. Portanto, a mulher, ao participar da política, opinando, propondo, também contribui para a consecução dos objetivos.
Ou seja, é na relação sujeito e coletividade que ocorre a participação política. Assumir o protagonismo na participação política requer que sejamos atuantes em relação a nossos interesses imediatos e mediatos, de modo que a questão de gênero não implique em “isto não é coisa de mulher”, mas em “além de tudo, eu também sou mulher”.

*Martha Raquel Alves Leitão é advogada ativista dos direitos humanos e militante pelo PSDB-Mulher SP 

 Fonte: PSDB-Mulher/SP