Uma das medidas mais irresponsáveis do governo foi o corte horizontal nos recursos dos 39 ministérios. Sem avaliar as diferenças de cada pasta, o Planalto passou a tesoura em um terço do orçamento da Esplanada. Justificou a iniciativa com o atraso na apreciação da Lei de Meios, que o Congresso só concluiu na semana passada.
Ao optar pelo fácil e aparentemente democrático critério, o Executivo causou sérios prejuízos a setores essenciais ao desenvolvimento. Premidos pelo calendário, eles não podem deixar para amanhã o que têm de fazer hoje. Um deles é o da educação. A Universidade de Brasília (UnB) serve de exemplo. Dos R$ 10 milhões mensais de que precisa para se manter, a instituição recebeu R$ 2,6 milhões.
As consequências, como costuma repetir o conselheiro Acácio, vêm depois. Doutor em obviedades, o personagem de Eça de Queiroz reitera o que todos sabem. O mesmo não se pode dizer dos burocratas da administração. Eles ignoraram o óbvio. Escola tem data para começar e terminar o ano letivo. Não só. A atividade envolve milhares de pessoas — professores, alunos, pais, servidores.
Com R$ 7,4 milhões a menos no caixa, a UnB começou mal 2015. Ali se conjuga o verbo falar. Sem anestésico, luvas e outros itens essenciais no estoque, o Hospital Veterinário suspendeu as cirurgias por tempo indeterminado. Sem combustível, alunos de agronomia tiveram canceladas as saídas de campo. Os cortadores de grama, movidos a gasolina, estão parados enquanto o mato cresce no câmpus.
Mesmo as atividades básicas sofrem com a escassez. Faltam papel e toner para impressoras nos laboratórios. O fato, além de prejudicar as pesquisas, compromete a aplicação de provas e, claro, o rendimento escolar. O quadro preocupante se completa com banheiros sujos em que papel higiênico é produto de luxo. Mais: há a previsão de corte de 25% dos terceirizados.
As universidades públicas, vale frisar, formam a elite nacional. Os profissionais por elas diplomados são os mais habilitados a responder aos desafios impostos pelo mundo globalizado, cujos paradigmas se renovam com velocidade jamais vista. É paradoxal o descaso com o setor talvez mais sensível do país.
No discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff anunciou o slogan do segundo mandato — Brasil, Pátria Educadora. As palavras, porém, não se transformaram em atos. Pior: não se vislumbra luz no fim do túnel. Quais os projetos aptos a tirar a educação das cordas, a melhorar a qualidade do ensino, a estimular talentos a ingressar no magistério, a dar excelência ao material didático? A resposta está no retrato de corpo inteiro da UnB — metonímia do descaso da pátria educadora.
*Publicado no Correio Braziliense – 24/03/2015