Opinião

“Copa do Mundo no Qatar evidencia escanteio de mulheres”, por Iraê Lucena

Desde a estreia do Brasil na Copa do Mundo do Qatar, boa parte dos brasileiros está em festa e esperançoso em alcançar o tão sonhado Hexa. É o principal assunto à volta das mesas dos telespectadores, ansiosos e ávidos por gols e título. Mas esta Copa, em especial, não é só sobre futebol. Muito tem se debatido sobre o respeito à diversidade e sobre os direitos das mulheres, ou a falta deles.

Apesar da exuberância e riquezas, o país-sede da Copa traz essa nuvem de práticas que atentam contra os direitos humanos. Sabemos que há uma questão cultural muito arraigada por trás disso, mas não podemos normalizar estas práticas. Lá, as mulheres precisam de permissão dos seus tutores masculinos para casar, estudar fora do país, ocupar vagas e trabalhar em empregos públicos e, pasmem, para receber cuidados de saúde reprodutiva. São negados direitos básicos e importantes para as mulheres. É negada a voz!

Bem, infelizmente, práticas que anulam e escanteiam mulheres não são uma particularidade só do Qatar. Esta edição da Copa do Mundo é a primeira que conta com mulheres entre os árbitros e auxiliares convocados pela Fifa. São seis no total: três árbitras e três auxiliares.

No entanto, com metade dos jogos já realizados, nenhuma delas ocupou os holofotes, o que repercutiu negativamente ao redor do mundo. A Fifa então anunciou o primeiro jogo de Copa do Mundo 100% arbitrado por mulheres. A partida Costa Rica X Alemanha, no dia 1º de dezembro, será apitada pela francesa Stéphanie Frappart, auxiliada pela brasileira Neuza Back e a mexicana Karen Diaz Medina. Um fato histórico, sem dúvidas, mas o quanto a decisão foi influenciada pela repercussão negativa anterior só cabe a nós especular.

Outro fato que tem chamado a atenção e causado revolta é o modo como Galvão Bueno, em sua última Copa do Mundo, ignora as análises de Ana Thaís Matos, comentarista escalada pela TV Globo para compor o time de cobertura dos jogos – um grande feito da emissora. Os comentários precisos e cirúrgicos de Ana Thaís – que, diga-se de passagem, tem uma vasta experiência em cobertura esportiva – não são reverberados como os dos homens. O que isso demonstra? A falta de interesse pelo que dizem as mulheres. O machismo encruado que, lá no fundo, acha que lugar de mulher não é no futebol.

Atitudes grosseiras como essa de Galvão são corriqueiras na vida das mulheres, principalmente daquelas que ocupam papeis de destaque. No futebol, infelizmente, não seria diferente. Vide as diferenças gigantescas nos salários entre jogadores masculinos e jogadoras femininas, as quais encontram dificuldades até para serem patrocinadas, que dirá reconhecidas pelo seu trabalho.

Há poucos dias, por exemplo, as manchetes de jornais do mundo teciam elogios ao português Cristiano Ronaldo por se tornar o primeiro jogador de futebol a marcar gols em cinco Copas do Mundo. Só esqueceram de mencionar que o feito não é inédito: antes dele, a nossa brasileira Marta e a canadense Christine Sinclair já haviam alcançado a marca, em 2019.

Até quando teremos de viver isso? De lutar contra o machismo? De brigar por espaços que deveriam ser abertos para todos?

Temos muito a evoluir. É fundamental que os pais de hoje comecem a educar seus filhos desde pequenos, a fim de acabar com a cultura machista e de promover a igualdade de gêneros.

Nós, mulheres, merecemos respeito!

*Iraê Lucena é coordenadora do PSDB-Mulher na Região Nordeste e foi deputada estadual pela Paraíba por três mandatos