Opinião

“Política é o caminho para superar a opressão contra a mulher”, por Yeda Crusius

Foto: Dennys William

Os tempos, hoje, são difíceis. A violência contra a mulher vitima uma de nós a cada sete horas no país. O assédio, as ameaças e as agressões crescem e oprimem. Ainda há, no campo político, um abismo em relação à realidade internacional. Enquanto no mundo os parlamentos têm 23% das cadeiras ocupadas por mulheres, no Brasil são apenas 15%. No ritmo atual dos resultados eleitorais, levaremos 120 anos para chegar à paridade de gênero no Congresso.

Alguém pode lembrar que já foi mais difícil. Éramos poucas há 30, 40 anos. Eu mesma era a única aluna de Economia na Universidade de São Paulo (USP) nos idos de 1960, e uma entre duas professoras na mesma faculdade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Fui uma das primeiras a participar como analista de economia na mídia. Estive entre as 33 deputadas eleitas em 1994, num universo de 513 congressistas. E, por fim, fui a única governadora, até hoje, eleita no Rio Grande do Sul.

Graças a nossas precursoras — e com muita luta —, avançamos, mas temos ainda um infinito a fazer. Não para dividir a sociedade entre gêneros, mas justamente para agregar. Nossa missão é construir pontes, entre um passado que nos envergonha e um futuro do qual possamos nos orgulhar. Um amanhã em que o preconceito, a segregação e a divisão da nossa sociedade, entre extremos que se odeiam, seja apenas um registro, uma lembrança ruim. Existimos para que todas e todos tenham voz. Para que as políticas públicas não sirvam a privilegiados, mas a todos.

Para isso, é preciso que sejamos ouvidas, respeitadas e tenhamos nosso espaço para construir um Brasil melhor. Foi essa a motivação da força-tarefa que percorreu o país em 2022 e reuniu mulheres e homens para debater o futuro e as prioridades da nossa nação. E todo esse movimento — registrado historicamente num e-book — ajuda a materializar o que pensamos, reúne ideais construídos pelas mulheres tucanas para o Brasil. Com este propósito, o PSDB-Mulher surgiu: para valorizar o protagonismo feminino, qualificando quadros e formulando bandeiras de políticas públicas para o país.

Coragem não nos falta. Disputar para valer é preciso — e para ganhar, não apenas figurar ou preencher cotas. Políticas públicas pensadas e implementadas pelas mulheres são universais e trazem retorno para toda a sociedade. O olhar feminino traz mais justiça, transparência e efetividade. Por isso, uma maior presença feminina nos postos de poder é mais do que necessária: é urgente. É pela política que vamos superar o medo, a desigualdade e o preconceito. Nossa voz deve ser ouvida. Não apenas por nós, mas pelo Brasil.

*Yeda Crusius, presidente do PSDB-Mulher, foi ministra do Planejamento, deputada federal e governadora do Rio Grande do Sul. Artigo publicado pelo jornal O Globo.