Em entrevista à Rádio Encantado (RS) nesta terça-feira (08/03), Dia Internacional da Mulher, a presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Yeda Crusius, destacou que o Brasil ainda está muito atrás de seus vizinhos da América Latina no quesito representatividade feminina na política.
Mesmo sendo a maioria da população e 52,5% do eleitorado brasileiro, as mulheres não estão refletidas em números nos mandatos eletivos.
“No ranking mundial entre todas as nações, nós somos a de número 142 na participação da mulher na política. É uma coisa inacreditável, uma sociedade tão aberta quanto a nossa ainda não ter isso representado nas estatísticas de participação política, seja parlamentar, nas prefeituras, nas câmaras municipais, no Congresso Nacional. Ainda somos muito poucas, o que denota que há um modo de trabalhar a política que não está representando a sociedade meio a meio”, constatou.
A própria tucana é um exemplo dessas estatísticas: é uma dentre apenas oito mulheres eleitas governadoras em toda a história da política brasileira, em seis estados. A única mulher eleita, pelo PSDB, para comandar o estado do Rio Grande do Sul.
Ela contou como a sua trajetória profissional e pública, ao escolher enveredar por campos tidos como masculinos, como a economia e a política, contribuíram para a sua visão de mundo e a noção de que a verdadeira democracia só será alcançada no país com mais mulheres ocupando os espaços de poder.
“Associar as duas coisas, o conhecimento de economia com o fazer político, foi a vereda na qual eu caminhei e que muito me honra, porque através dessa caminhada, eu pude, no momento em que estou agora, buscar abrir oportunidades para as que vêm depois de mim, porque continua não sendo fácil para elas. Continua sendo muito difícil”, afirmou.
“Eu tive esse caminho, conquistado, aceito e valorizado, e hoje presido as mulheres do PSDB Nacional. Faço capacitação há muitos anos. Fundei, junto com outras mulheres, o PSDB-Mulher lá em 1998, e nunca paramos. O que eu posso fazer, devo fazer e quero fazer agora? É poder dar o apoio para que outras mulheres que queiram fazer isso não encontrem tantas dificuldades e preconceitos”, acrescentou.
Cenário eleitoral
Yeda Crusius também fez uma análise sobre o cenário político de 2022 e os possíveis impactos que as novas regras eleitorais podem trazer para as mulheres.
Para a presidente do PSDB-Mulher, a cota que estabelece o mínimo de 30% de candidaturas a ser preenchidas por mulheres dentro das legendas não representa um avanço na participação feminina na política.
“30% de candidaturas ajudaram muito pouco, porque os partidos internamente, via de regra, são organizados para outros interesses, e não o interesse da igualdade, da pauta da mulher. Não valeu muito, tanto é que hoje as mulheres são 15% das eleitas nos cargos eletivos. Mas como, se tem 30% de candidatas, só 15% são eleitas? Se não tiver Lei, é pior ainda”, comentou.
Ela disse esperar que, com a aprovação do peso dois para os votos dados a mulheres e pessoas negras, para fins de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) entre os partidos políticos, as mulheres com potencial de voto sejam mais valorizadas.
Ainda assim, a tucana destacou a importância da autonomia para que as mulheres gerenciem esses recursos da melhor forma:
“Como presidente do PSDB-Mulher Nacional, tive o comando de 30% do Fundo Eleitoral para as eleições gerais de 2018. O que aconteceu: nós dobramos o número de mulheres eleitas para a Câmara Federal. Elegemos uma senadora, Mara Gabrilli (SP). E cresceu em 30% o número de deputadas estaduais eleitas”, exemplificou.
Outra crítica foi destinada à cultura política que permite a migração indiscriminada de lideranças políticas entre diferentes siglas, em especial durante a janela partidária.
“Isso causa essa outra estatística, que diz que o número de jovens eleitores de 16 a 18 anos despencou. Por quê? Porque eles olham para a política e não gostam. O número de filiados jovens no partido político despencou, porque há uma desconfiança nesse modo de fazer política que acaba resultando nessa estatística horrorosa de que só 15% dos eleitos são mulheres”, considerou Yeda.
Paridade de gênero
Durante a entrevista, a presidente do Secretariado Nacional também defendeu a Agenda 50/50, constatando a necessidade de homens e mulheres lado a lado, com paridade de gênero nos espaços de poder, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
“Quando existe essa proporcionalidade igual à população 50/50, muda a política, a organização, porque a pauta que cai sobre os ombros da mulher é uma pauta que os homens deixam para as mulheres levarem. É que nem trabalho doméstico: melhorou muito, mas ainda cai sobre o ombro da mulher. O número de mulheres que comandam as finanças da casa hoje é enorme, a mulher cabeça de casal, mas isso não repercute nos órgãos de decisão”, avaliou.
“Quando você tiver 50/50 nos órgãos de decisão, aquilo que é discutido e decidido muda de caráter também”, explicou. “Quando uma mulher vai para a política, muda a vida da mulher. Quando muitas mulheres vão para a política, muda a política. É isso que quer dizer a gente defender 50/50”.
Juntas somos fortes
No Dia Internacional da Mulher, a tucana ressaltou ainda que esse é o momento de refletir acerca das conquistas e retrocessos na luta pelos direitos das mulheres. Ela deixou às ouvintes uma mensagem de união e solidariedade.
“A essas tantas Marias, Helenas, e todos os nomes de mulher que a gente pode citar, a minha mensagem é que, nessa data, avaliem tudo o que avançou, quais são os desafios. E contem conosco”, frisou.
“As mulheres unidas são aquelas capazes de fazer. Uma vez subidos os degraus de uma escada por uma mulher, ela bota a mão para trás e ajuda a subir uma que vem vindo depois dela. Vamos nos dar as mãos, e quanto mais unidas as mulheres estiverem, melhor o mundo em que todos viveremos, inclusive os homens”, concluiu Yeda Crusius.
Ouça a entrevista na íntegra AQUI