Opinião

“Onde chegamos? Estamos roendo ossos”, por Luciana Loureiro

Foto: Arquivo Pessoal

O Brasil que a gente tanto ama pede clemência, em seis meses de agosto de 2020 a fevereiro deste ano, o número de pobres pulou de 9,5 milhões para mais de 27 milhões. Ampliando essa tristeza coletiva, basta observar que 34% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, na sua grande maioria solitariamente, sendo que muitas perderam os empregos ou viram sua renda reduzir expressivamente por causa da pandemia da Covid-19.

Como se esse quadro trágico não fosse suficiente, nos últimos dias, assistimos cenas desoladoras: pessoas se acotovelando para comprar ou ser “beneficiado” com ossos, que seriam jogados fora por supermercados e açougues, mas que serão transformados em pratos de comida nas mesas destas famílias.

Em Cuiabá, a imprensa registrou mães que fazem uma verdadeira peregrinação até três vezes por semana para garantir um lugar em frente a açougues da cidade que vendem a preços módicos e, em algumas ocasiões, doam pedaços de ossos! Onde chegamos? Estamos roendo ossos.

Essas mulheres buscam na desossa do boi alguns resquícios de carne. Questionadas sobre essa peregrinação, essas mães de família contaram que têm filhos e sofrem por não ter o que colocar em casa.

Muitas delas contaram para os jornalistas que além dos ossos, recorrem às verduras e frutas que seriam descartadas pelos estabelecimentos comerciais. Com a alta do gás, essas mulheres em situação de vulnerabilidade recorreram aos costumes das avós e bisavós: passaram a cozinhar à lenha.

Em um dos atacadões mais procurados em Cuiabá, o responsável afirmou que, por dia, são colocados para doação cerca de 500 quilos de ossos. Ossos. Repito: ossos. Algo que nem os cachorros comem, pois os veterinários recomendam rações específicas para cada raça e faixa etária.

Não podemos seguir assistindo a situações como esta. Precisamos reagir e logo! É doloroso e aterrorizador: se hoje fazem filas atrás de ossos, o que será amanhã?

*Luciana Loureiro é advogada, assessora jurídica do PSDB-Mulher Nacional e vice-presidente do PSDB-Mulher do Distrito Federal