Ao participar do primeiro de uma série de encontros presenciais promovido pelo Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, em São Paulo, sobre a pandemia da Covid-19, na sexta-feira (17/9), a diretora de Projetos Estratégicos do Instituto Butantan, economista com formação acadêmica em ciências cognitivas e neurociência, Cíntia Lucci, emocionou as tucanas ao ressaltar a importância da mulher em todos os setores da sociedade, inclusive, na ciência.
“É uma honra estar aqui com vocês. Eu sou a única mulher na direção do Butantan. Por um lado é um orgulho enorme, por outro é uma mudança que a gente tem pela frente. Eu tenho a perfeita consciência do que eu represento o tempo todo num universo de três mil funcionárias. Se eu estou no cargo mais alto possível na diretoria da fundação, esse caminho está aberto para qualquer outra mulher que trabalha lá”, afirmou.
Cíntia relatou a emoção de estar ao lado de mulheres que já tiveram altos cargos e que serviram de inspiração para milhares de outras mulheres, citando com exemplo a presidente nacional do secretariado, Yeda Crusius, que já foi ministra do Planejamento e governadora do Rio Grande do Sul. A doutora em neurociência relatou como os bons exemplos podem impactar na vida das pessoas.
“Vocês são esse exemplo no universo de mais de duzentos milhões de pessoas. É por isso que, eu fico emocionada. Desde que eu sou pequena, cada mulher que aparece na televisão ela me marcou de um jeito. Eu só passei a ter ideia disso agora, depois de um mestrado em filosofia, de mestrado ciências cognitivas e de um doutorado em neurociência, ou seja, depois de anos de estudo em psicologia, de formação de bases neurais, como isso afeta a gente”. E agradeceu a cada uma das tucanas por não desistirem de lutar pelos direitos das mulheres.
“Fico muito emocionada. Obrigada por esse projeto, pelas lutas, por apanharem e continuarem. A inserção das mulheres na sociedade é de suma importância. O problema está diagnosticado: não tem política pública para mulher sem mulher nesta causa. Não tem!”
CoronaVac
Cíntia Lucci encantou as tucanas ao esmiuçar o processo de desenvolvimento da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa farmacêutica chinesa Sinovac.
“A gente tinha uma fábrica com capacidade duplicada que podia chegar a fazer 80 milhões de doses, podendo chegar a 100 [milhões de doses] em seis meses”, relatou. “A gente pode fazer a mesma coisa nos outros seis meses, era o que se estava fazendo, avançando nisso o para fornecer [vacina] Influenza para uma multinacional.”
Segundo Cíntia Lucci, para seguir com a fábrica neste nível operacional, foi necessário “transferir tecnologia para fora” para uma multinacional, chamada MSD, com sede em Nova Jersey, atuando em 140 países.
“Isso é inédito no país. O Butantan tem a competência administrativa. Quem ia querer passar um produto tão valioso para uma empresa e em quais condições?”, questionou a especialista, sendo aplaudida pelas presentes. “A gente conseguiu convencer uma empresa a passar um produto valioso.”
Cíntia Lucci afirmou que a parceria com a multinacional envolve as áreas de infraestrutura e de gestão. “A gente conseguiu fechar um contrato, precificar com alguém que dizia que não ia comprar nada da China. Isso mostra eficiência técnica”, comemorou.
De acordo coma Federação Internacional de Fabricantes e Associações Farmacêuticas (IFPMA), a CoronaVac, representa 24% da produção total de imunizantes contra a Covid-19, com 1,8 bilhão de doses, o que na prática indica que uma a cada quatro doses de vacina – é CoronaVac.
A presidente nacional do secretariado, Yeda Crusius, sintetizou o sentimento das demais tucanas presentes no evento. “Eles deram para nós o que é a saga da vacina no Brasil, que foi por meio desta vacina, buscada pelo Butantan, em 2020, dividiu o Brasil entre os negacionistas e aqueles que sabem que a defesa da vida não vem sem a ciência e sem vontade política”, afirmou Yeda Crusius, que destacou a emoção de ouvir Cintia Lucci: “Ela disse que foi emocionante ver mulheres que constroem a vida de outras mulheres no país”.