A presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, Yeda Crusius, concedeu entrevista na manhã desta sexta-feira (30/7) ao programa 90 Minutos, da Rádio Bandeirantes do Rio Grande do Sul (assista à íntegra AQUI), e fez uma análise do panorama político. Segundo a tucana, os brasileiros procuram em 2022 uma alternativa à polarização política que se apresenta, entre as extremas direita e esquerda. O que a candidatura de centro deve oferecer, segundo ela, é a “via democrática”.
“Ela será a primeira via. A gente fala ‘terceira via’ porque é Bolsonaro contra Lula, ou esquerda contra direita, e o centro é chamado de terceira via. Mas hoje você tem um país que já teve experiências das mais diversas, está olhando o que acontece no resto do mundo, e que quer a primeira via, a via democrática. Para ela acontecer, você ainda não tem o personagem da primeira via, o candidato de centro”, avaliou.
A presidente do PSDB-Mulher constatou que no atual cenário político, as instituições não têm funcionado como deveriam, entre elas a democracia eleitoral e representativa. O exemplo maior disso é o populismo construído ao redor da figura do presidente da República Jair Bolsonaro.
Nesta quinta-feira (29/7), o presidente fez a aguardada live onde finalmente divulgaria as supostas provas de que o pleito que o elegeu, em 2018, foi fraudado. Ao invés disso, ele apresentou uma série de vídeos antigos de internet, já desmentidos por órgãos oficiais, e afirmou: “Não temos provas, vou deixar bem claro, mas indícios”.
Para Yeda Crusius, o sistema de urnas eletrônicas pode, de fato, ser melhorado. No entanto, Bolsonaro cria uma narrativa política com o claro objetivo de descredibilizar as instituições públicas e fidelizar uma base de apoio para as eleições de 2022.
“Isso não é loucura, isso é método. Há método nessa loucura. Ele precisa arrumar a cada dia um conflito ou mais, um inimigo externo ou mais. Isso vem desde que o tempo é tempo. Os autoritários ou os totalitaristas, que são diferentes entre si, têm que arrumar um inimigo externo. No caso do totalitarismo, o poder está na pessoa. Quando se coloca como um mito, que não se sabe o que é, em uma pessoa, a tendencia ao autoritarismo é a primeira e ao totalitarismo é a segunda. Foi assim com o Hugo Chávez, com o Fidel”, ponderou.
A tucana classificou os constantes ataques do presidente ao sistema eleitoral como uma cortina de neblina, mas que alcança apenas os seus seguidores. Ela comparou o discurso com a estratégia usada em diversos momentos pelo Partidos dos Trabalhadores.
“Saúde mental para mim é não ouvir o Bolsonaro, porque eu já sei o método que ele está usando”, rebateu. “Na política, o simbólico é fundamental. A gente precisa de mitos e ele se faz no papel de mito, porque foi plantada no passado uma semente ruim. A semente do petismo foi muito ruim”, considerou.
“Ele [Bolsonaro] está mantendo o rebanho dele para ver se se reelege com a mesma divisão para a sociedade no ano que vem. Acho que não, porque nós vamos ter uma terceira via. Eu trabalho por ela”, ressaltou.
Capacitação para mulheres
Durante a entrevista, Yeda Crusius contou que, em um tempo desafiador para toda a humanidade, a tecnologia surgiu como uma alternativa para a democratização do conhecimento. Foi quando, em meio à pandemia de Covid-19 e à campanha das eleições municipais de 2020, foi criada a Plataforma Digital PSDB-Mulher, ferramenta de integração e capacitação política de potenciais lideranças femininas.
“O mundo amadureceu e a pandemia mostrou que o mundo virtual está aí para valer, encolhendo espaços, fazendo uma nova forma de comunicação. Como estou há vários anos na política, tratando de capacitar mulheres para a política, aproveitei e fiz, entre aspas, um doutorado no mundo virtual. Construí uma plataforma digital de capacitação de mulheres para o Brasil. Contratamos uma empresa e eu aprendi muito”, revelou.
Na visão da tucana, não há como fazer política hoje sem usar as ferramentas do mundo virtual, assim como não é possível construir uma democracia verdadeiramente forte sem a participação efetiva da maior parte da população brasileira: as mulheres.
“Atuo com mulheres de todo o Brasil. Lá no Amazonas, por exemplo, não tem acessibilidade para o mundo virtual. Tudo precisa de barco e vai daí por diante, elas estão mais afastadas. E aí não adianta, para fazer política ou qualquer outra coisa hoje você precisa usar ferramentas do mundo virtual”, disse.
Tempos de retrocesso
Ao mesmo tempo em que a tecnologia oferece alternativas de comunicação em tempos de isolamento, existe também o seu lado negativo. Para Yeda, boa parte do alcance que o discurso patriarcal e retrógrado tem tido nos dias de hoje se deve às liberdades oferecidas pelas mídias sociais aos indivíduos. Esse ambiente oferece espaço para que a polarização cresça.
“Qual é a notícia que vende? A escandalosa. A boa notícia não vende. Por isso a gente tem uma enorme dificuldade de conquistar pelo discurso que vá além das redes sociais”, justificou. “A semente ruim que foi plantada foi essa semente ‘eles contra nós’, esse maniqueísmo que diz que se você não está comigo, está contra mim”, acrescentou.
Na contramão desse discurso, segundo a tucana, está o PSDB:
“O PSDB é uma instituição com raízes, que mostra ao longo do tempo não surtos, mas uma linha de conduta”, completou Yeda Crusius.