A soldada da Polícia Militar Jéssica Paulo do Nascimento, de 28 anos, protagoniza mais um caso de violência contra a mulher que caminha para a impunidade. Após denunciar um tenente-coronel à Corregedoria da PM por assédio sexual e ameaça de estupro e morte, ela se viu obrigada a pedir exoneração da corporação por temer pela própria vida e de seus familiares.
Segundo Jéssica, a medida foi tomada para tentar garantir a sua segurança na Justiça Comum. Isso porque, apesar da gravidade das denúncias, a Polícia Militar não foi capaz de garantir a proteção dela e da família.
Em reportagem publicada pelo UOL, ela contou que o máximo que a Corregedoria fez foi transferi-la para outra companhia. E apesar de terem garantido que a colocariam em uma função administrativa, ela foi designada para fazer policiamento nas ruas. Jéssica também disse ter sentido hostilidade por parte de colegas e superiores desde que se apresentou ao novo batalhão, passando a receber advertências por motivos considerados “pequenos”.
“Primeiro me colocaram nas ruas, sem proteção nenhuma. Depois, começaram a mexer na minha escala. Imagine ter que sair às ruas, à noite, desprotegida, depois das denúncias que eu fiz. Eu tinha muito medo. Sem contar que eu já estava à base de remédios controlados”, justificou Jéssica.
A coordenadora do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB na região Nordeste, Iraê Lucena, classificou toda a situação como inacreditável.
“É lamentável que Jéssica teve que pedir exoneração por falta de segurança e proteção à sua família. É assediada, não vê punição ao culpado e, ainda, teve que pedir exoneração. Inacreditável!”, frisou a tucana.
Entenda o caso
As investidas contra Jéssica teriam se iniciado em 2018. O comandante do Batalhão da Zona Sul de São Paulo, que não teve a identidade divulgada por conta do sigilo do processo, é acusado de enviar mensagens e áudios com palavras de baixo calão e propostas indecorosas, além de ter praticado episódios de humilhação em frente aos colegas da vítima.
Uma vez que Jéssica recusou os seus avanços, o comandante começou a persegui-la. Além de não permitir que ela fizesse teste para o Corpo de Bombeiros, ele exigiu a transferência dela para um batalhão que ficava a 40 quilômetros da casa dela, sabendo que ela tinha dois filhos ainda bebês. Ele também passou a fazer ameaças à integridade física de Jéssica e sua família, caso ela não cedesse aos seus apelos.
Após a denúncia de Jéssica à Corregedoria, a PM instaurou um inquérito policial militar para apurar os fatos. Segundo a corporação, o oficial foi afastado do comando do batalhão e licenciado do cargo.
“Cheguei ao meu limite. Tudo isso que aconteceu eu registrei em áudios e vídeos, para a minha segurança. Já que não consegui ser protegida pela PM, quem sabe agora, como civil, a Justiça me conceda essa proteção”, lamentou Jéssica.
Em 2020, os canais Disque 100 e Ligue 180 registraram uma denúncia de violência contra a mulher a cada cinco minutos. Foram 105.671 denúncias registradas no ano passado, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.