Mulheres que Inspiram

Yeda Crusius: 30 anos de história política em favor das mulheres

Falar de mulheres que inspiram na política sem falar de Yeda Crusius é uma missão impossível. Com mais de 30 anos de trajetória no setor, a biografia e conquistas profissionais da presidente do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, ex-ministra do Planejamento no governo Itamar Franco,  ex-governadora do Rio Grande do Sul e ex-deputada federal por quatro mandatos,  estão intrinsecamente ligadas à história política do Brasil e à luta pelos direitos das mulheres e o aumento da representatividade feminina nos espaços de poder.

Conheça algumas fases importantes da vida da tucana:

Como tudo começou

Nascida e criada em Vila Mariana, na capital paulista, em 26 de julho de 1944, Yeda Rorato Crusius sempre teve uma família numerosa. Seus pais, Francisco e Sylvia Rorato, lhe deram mais cinco irmãos: Marília, Yara, Percival, Lupércio e Thaís. Eram descendentes de imigrantes, com dois avôs italianos, uma avó italiana e a outra portuguesa.

Em seu livro de memórias, “Coragem e Determinação – um Infinito Ainda Por Fazer”, publicado pela editora AGE, Yeda conta que a convivência familiar lhe proporcionou uma criação não convencional para a época. Seu pai era maçom, um contabilista apaixonado pelo jornalismo, tendo fundado dois jornais, ‘O Chicote’ e a ‘Tribuna de Conquista’, que circularam de 1931 a 1936. Já sua mãe era dona de casa, e simpatizante do Anarquismo.

“O ambiente dentro de casa entusiasmava, estimulava e fazia com que cada filho tomasse a sua vida pelas suas mãos. Era um completamente diferente de outro, compostos dessas duas partes completamente polares: a mãe, mulher anarquista, e o pai, homem maçom. Naquele tempo, eu cresci me perguntando por que as instituições que faziam a história e o poder, desde o sistema financeiro até o sistema político, a maçonaria, não tinham mulheres. Enquanto, dentro de casa, o espírito democrático era totalmente prevalecente. Quer dizer, todos são iguais perante a casa, cada um com a sua maneira e a sua individualidade”, relembrou, em um bate papo com a especialista em estratégias de comunicação Suzana Vellinho.

Amor pela leitura

Ainda criança, Yeda percebeu o diferente tratamento que era dado pela sociedade a homens e mulheres: enquanto seus irmãos, que estudavam em um colégio jesuíta de padres, aprendiam sobre história, geografia, poder e finanças, ela e suas irmãs aprendiam no colégio de freiras a “bordar e sentar direito”.

“Até então, eu fazia perguntas e não encontrava respostas. Quando entrei no colégio misto, no mesmo bairro, muitas daquelas perguntas, que eram quase mitológicas, eram segredos, bruxarias, desapareceram. Passei a entender, a ter segurança de que eu era um ser humano como era o menino que sentava do meu lado”, destacou.

Foi essa sede de conhecimento que despertou nela o amor pela leitura, incentivada pelo próprio pai, que abriu para ela as portas de sua biblioteca particular. A partir dos 13 anos, ela começou a procurar as respostas para as suas perguntas nos livros, de astrologia e mitologia grega até economia e a arte da guerra.

“Como adolescente, eu disse: ‘é isso o que eu quero’. Eu quero ler, quero descobrir, e o que eu ler, quero conversar com as pessoas. Isso é democracia. É quando você troca o que tem dentro de você com quem você está conversando, em condições de igualdade”, afirmou ela.

Visão de mundo

Sua visão de mundo também sofreu um baque após o pai perder o emprego, em 1961, durante a crise de Jânio Quadros. Aos 16 anos, Yeda começou a trabalhar como atendente em um hospital, e saiu da escola privada, onde fazia aulas de francês, vôlei e cerâmica, para um colégio público, onde estudava à noite.

“Naquele tempo não tinha caderneta de poupança, seguro-desemprego, nada disso. A pessoa ficava sem emprego e no dia seguinte não tinha dinheiro para comprar pão”, afirmou.

“Meu pai demorou algum tempo para recuperar a sua posição financeira, o seu emprego. Daí ele me disse ‘minha filha, você não precisa mais trabalhar’. E eu disse: ‘meu pai, eu nunca mais vou parar de trabalhar. Eu nunca mais vou deixar de participar do mundo como ele é’. Através do trabalho e através da escola, dos cursos. Foram esses momentos determinantes que me fizeram a mulher que eu sou, a base que eu sou”, constatou Yeda.

Uma vida de trabalho

A partir daí, Yeda Crusius nunca mais deixou de trabalhar. Em 1966, ela se formou em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), concluindo uma pós-graduação em 1968. No ano seguinte, se mudou para os Estados Unidos, onde emendou mais uma pós pela Universidade do Colorado e o mestrado em Economia pela Universidade Vanderbilt. Foi lá que ela conheceu Carlos Augusto Crusius, seu futuro marido. Eles se mudaram para Porto Alegre em 1970, e juntos tiveram dois filhos, César e Tarsila. Ela tem hoje quatro netos: João Guilherme, Vinícius, Helena e Victória.

Na capital gaúcha, Yeda se tornou professora titular do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi a partir de sua trajetória como economista renomada que se abriu para ela um novo caminho: o da comunicação. Em 1988, ela foi contratada pela Rede Brasil Sul de Comunicações (RBS) como comentarista da área econômica.

Segundo Yeda, a comunicação foi um caminho natural para ela, além de uma forma de superar a sua timidez. A aptidão aparece até mesmo em seu mapa astral.

“Eu só venci isso [a timidez] quando entrei para o mundo da comunicação. Sendo economista e vivendo o final dos anos 70, o Delfim Netto, depois o segundo choque do petróleo, os anos 80, a década perdida, hiperinflação, eu fui chamada a participar da comunicação”, relatou.

Na vida, eu fui escolhendo autonomamente, a cada coisa que me acontecia, o que eu ia fazer, o que me dava mais prazer. Eram finanças e comunicação, mas estava escrito nas estrelas, os astros já diziam isso”, acrescentou ela.

Trajetória política

Sua história política começou a partir de 1990, quando se filiou ao PSDB. Em 1993, tornou-se ministra-chefe da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação no governo do presidente Itamar Franco. No ano seguinte, foi eleita deputada federal pelo Rio Grande do Sul, cargo que manteve por quatro mandatos, sagrando-se como uma das parlamentares mais influentes do Congresso Nacional.

Nesse meio tempo, foi uma das fundadoras do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, além de presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), responsável pela formação política e formulação programática do partido.

Em 2006, se tornou a primeira mulher eleita à governadora do estado do Rio Grande do Sul, com uma campanha focada em um choque de gestão que visava a redução de um déficit financeiro que já durava mais de 30 anos. Liderou então o projeto de desenvolvimento que conquistou o Déficit Zero em 2008, com um registro de altas taxas de crescimento do PIB, melhoria em todos os indicadores sociais, e novos projetos de infraestrutura e investimentos.

Após deixar o governo voltou a trabalhar como jornalista e, a partir de 2017, retornou à Câmara dos Deputados. Ocupa hoje a presidência do PSDB-Mulher, onde tem colocado em prática uma série de iniciativas visando a promoção da representatividade feminina na política, entre elas cursos de capacitação política para pré-candidatas e a Plataforma Digital PSDB-Mulher 2020.

Mulher resiliente

Não foram poucos os obstáculos enfrentados por Yeda Crusius ao longo de sua trajetória. O mais recente deles agora, com a pandemia do coronavírus.

“Essa pandemia me fez ter ainda mais consciência do que eu já tinha antes, de que eu passei a minha vida inteira olhando para fora. Eu não olhava para dentro do meu corpo. A minha curiosidade para tentar entender o sentido da vida, o mundo, as desigualdades. Eu não tinha os olhos para dentro, eu tinha os olhos para fora”, considerou.

“Eu sou uma pessoa muito feliz porque estou na minha terceira oportunidade de ver transformações no mundo. Primeiro, quando nasci, eu vi a transformação dos anos 60, vi a transformação dos anos 90, e quero ver a transformação dos anos 2020”, acrescentou ela.

Para a tucana, o que a ajudou a superar todos os desafios que lhe foram impostos por ser uma mulher ocupando lugares de destaque nos espaços de poder foi a sua resiliência.

Dei uma entrevista para uma jornalista muito querida lá do Correio do Povo, e ela, muito cuidadosamente, me perguntou: ‘pois é, governadora, agora eles querem lhe tirar do cargo. O que a senhora vai fazer?’. Resistirei. Foi a manchete do dia seguinte: ‘Resistirei’. A partir dali, eu fiquei certa de que a minha força vinha do que eu tinha dentro, para fazer o que eu achava certo lá fora e enfrentar o lado escuro da força”, contou.

“O que é a resiliência? É quando essa é uma característica estrutural minha, que tem a ver com a segurança dos meus valores, de eu não estar ferindo os meus valores, os meus antepassados, a educação que eu tive, os filhos que eu botei no mundo. Não vão mexer com isso. Na parte da política e em qualquer outra parte”, destacou Yeda.

“Eu não tenho que temer ninguém. Eu tenho que temer uma coisa muito superior a essas bobagens desses, principalmente homens, que têm inveja do útero e sede infinita de poder. Eles vão procurar a turma deles, porque aqui tem mulher. E aqui tem mulher para defender homem e mulher”, completou a presidente do Secretariado Nacional.

Veja algumas imagens da trajetória de YEDA CRUSIUS:

Economista:

Comunicadora e Articulista:

Professora Universitária:

Ministra:

Fundadora do PSDB-Mulher:

Presidente do ITV:

Governadora do RS:

Deputada Federal:

Presidente do PSDB-Mulher: