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Número de candidatos da área da saúde cresce nas eleições de 2020

Mais de 19 mil técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros, se registraram para participar das eleições deste ano. Em 2016, eram menos de 17 mil. Segundo especialista, aumento é efeito da pandemia e do destaque que a saúde pública recebeu nos últimos meses

O número de candidatos com profissões da área da saúde aumentou nas eleições deste ano em comparação com 2016, ano do último pleito municipal.

Em 2020, mais de 19 mil concorrentes declararam ter ocupações da área de saúde, como técnico de enfermagem, fisioterapeuta e fonoaudiólogo, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há quatro anos, eles eram menos de 17 mil. Isso significa que houve uma alta de 15% nas candidaturas da saúde.

O aumento é maior que o do total das candidaturas, que teve um crescimento de cerca de 10% quando comparadas com as de 2016.

A profissão que mais cresceu entre os candidatos foi a de fonoaudiólogo, que tinha 58 concorrentes registrados em 2016 e, agora, tem 86, em uma alta de 48%.

Os médicos tiveram um aumento de 8%, e os enfermeiros, de 4%.

Já a ocupação com mais candidatos é a de técnico de enfermagem. São 4.631 pessoas que declaram ter esta profissão, 1,4 mil a mais que há quatro anos. O aumento foi de 44%.

Além disso, se for considerada a variação na proporção de concorrentes em vez do número absoluto, a profissão de técnico de enfermagem foi a terceira que mais cresceu entre todas as ocupações cadastradas pelos candidatos. Em 2016, 0,6% dos concorrentes eram técnicos de enfermagem; agora, são 0,8%, um aumento de 0,2 ponto percentual.

Os técnicos de enfermagem apenas ficam atrás dos empresários e dos advogados neste aumento proporcional.

Segundo cientista político, a pandemia aumentou a relevância das pautas de saúde durante a eleição; por isso, aumento de candidatos ligados à área de saúde não é inesperado — Foto: Joaquín Sarmiento/AFP

Segundo Eduardo Grin, professor do Departamento de Gestão Pública da FGV-SP, o aumento no número de candidatos da área de saúde não é inesperado, já que saúde é o problema público mais debatido no país há alguns meses por causa da pandemia.

“Saúde não é um problema novo para o eleitorado. O que é novo é a extensão da pandemia e o medo que nós temos de não conseguir ser atendidos pelo SUS, sobretudo porque a pandemia trouxe um aprofundamento da crise econômica. Muita gente perdeu o emprego, e a clientela do SUS aumentou”, afirma o cientista político.

Nesse contexto, o professor diz que a promessa de campanha de ter um bom serviço de saúde cresce em importância para a população em relação a anos anteriores.

“A pauta de saúde assumiu maior relevância neste ano. É a forma de o candidato criar um elo de maior conexão com o eleitor. É nessa perspectiva que se insere o aumento de candidatos vinculados à saúde.”

Cargo disputado

Grin destaca que, no caso dos candidatos a vereador, há um apelo eleitoral ainda maior em ligar suas candidaturas à área de saúde. “Nós temos um número maior de candidatos a vereador neste ano que em 2016. Eles tentam compensar essa situação criando simbologias ou formas de comunicação que os tornem mais conhecidos, e vincular [a campanha] à área de saúde é um marketing político que pode render votos”, diz.

Dos 19,4 mil candidatos da saúde, a maioria (87%) tenta uma vaga de vereador nas cidades. Os outros tentam cargos de prefeito e de vice-prefeito.

O professor destaca que a saúde também pode ser bem utilizada pelos candidatos aos Executivos municipais.

“Saúde é responsabilidade municipal. Para um candidato, pode ser uma estratégia importante de campanha mostrar-se capaz de organizar a política de saúde na cidade”, afirma Grin.

Por outro lado, segundo Grin, a campanha voltada de maneira muito forte para a saúde é uma aposta arriscada.

“Em um cenário de pandemia e de crise econômica, vai ser desafiador para os prefeitos investir em uma área que é extremamente demandante de dinheiro”, afirma. “Pode ser que, eleitoralmente, dê retorno, mas, em janeiro, quando assumir, o quadro de penúria fiscal vai estar presente e vai haver cobrança dos prefeitos que não conseguirem cumprir suas promessas de saúde.”

Os dados também apontam que há uma diferença entre as ocupações declaradas a depender do cargo disputado.

Entre os médicos candidatos, 8% disputam um cargo de vereador e 60% tentam ser prefeitos. Já os técnicos de enfermagem, que são 27% dos candidatos a vereador, representam uma minoria entre os que tentam cargos de prefeito (3%).

“Há uma hierarquia na área da saúde, em que o médico está no topo e o enfermeiro está abaixo. No imaginário da população, um candidato a prefeito que vai se colocar como responsável por melhorar a saúde da cidade é um doutor. Assim, o apelo eleitoral do médico candidato é muito superior ao do enfermeiro”, diz Grin.

O professor ainda destaca que médicos têm uma taxa de sucesso alta na eleição. “É uma profissão que gera imagem de pessoa bem formada, capacitada, e isso conta para o eleitor, sobretudo no atual contexto. Quem cuida de mim na pandemia? O médico. Ele pode não cuidar no consultório, mas vai cuidar de mim na prefeitura.”

Por outro lado, segundo Grin, enfermeiro e técnico de enfermagem candidatos a vereador também fazem sentido. “O vereador é muito ligado a determinados bairros da cidade, e UBSs, unidades de saúde da família, são ligadas a essas profissões e são também ligadas aos bairros”, diz. “Então o eleitor cria um vínculo a partir do imaginário que ele tem de cada profissão.”

Reportagem Clara Velasco
Com informações do G1