Curada da Covid-19, a senadora Mara Gabrilli (SP) relata estar enfrentando sequelas da doença, como dores e espasmos musculares fortes.
“As dores geraram espasmos, que agora geram mais dores”, disse, em texto publicado em seu blog.
A senadora tem 53 anos e é tetraplética há 26, desde que sofreu um acidente de carro e ficou impossibilitada de se mexer do pescoço para baixo.
Ela recebeu o diagnóstico para Covid-19 no dia 19 de maio e, no último final de semana, o resultado do exame foi negativo. A senadora foi contaminada por uma das cuidadoras, que perdeu a mãe para a doença.
Além das dores e espasmos, Gabrilli perdeu o olfato, o paladar e a memória recente.
“Percebemos que o vírus afetou meu sistema nervoso. Como ainda continuo com perda de memória recente, vamos estudar o quanto afetou”, relatou.
Por orientação médica, ela seguirá afastada das sessões do Senado e começará um tratamento de reabilitação. Também fará avaliações para investigar os danos causados pela Covid-19 em seu corpo.
“Hoje ainda não sabemos como o vírus pode afetar pessoas com lesões medulares e diferentes tetraplegias. Um maior conhecimento sobre casos como esse pode ajudar a medicina a elucidar esses efeitos, uma vez que falamos de algo novo e sem parâmetros científicos”, afirmou.
Quando recebeu o diagnóstico da doença, a senadora chamou a atenção para a situação de outras milhares de pessoas que precisam de cuidadores para realizar as atividades diárias.
“É preciso alertar para o fato de que eu, uma senadora da República, com todos os cuidados tomados, não consegui ficar imune à doença. Imaginem quantos brasileiros, espalhados por todo o Brasil, não estão passando pela mesma situação”, disse.
Gabrilli pediu o apoio dos demais senadores a propostas que apresentou para um pacote emergencial destinado a pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade.
Ainda em maio, por votação simbólica, os senadores aprovaram um projeto de Gabrilli para que seja oferecido o transporte segregado para os acompanhantes que desempenham funções de atendente pessoal.
Em artigo publicado na Folhalogo após ser contaminada, a senadora disse que as pessoas com deficiência não foram lembradas no momento em que a orientação máxima da OMS (Organização Mundial da Saúde) foi o isolamento social e a higienização das mãos.
“O que faz um tetraplégico que precisa das mãos de outra pessoa para fazer tudo, inclusive tirar um cabelo dos olhos?”, questionou.
Ela disse que a deficiência por si só não é um agravante para o contágio, mas a condição de vulnerabilidade, sim.
“Governo nenhum no mundo pode fechar os olhos para essa questão. Afinal, vidas não se contabilizam, apenas se preservam”.
Além de Gabrilli, a doença atinge também outros integrantes do primeiro escalão da política nacional, com ocorrências entre ministros de Estado, congressistas, governadores e prefeitos de capital.
Um dos casos mais recentes é o do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que está isolado em casa e sem sintomas da doença, apesar do diagnóstico.
Fonte: Folha de S. Paulo