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Coronavírus: como ficam a gravidez, a amamentação e os cuidados com o recém-nascido?

Foto: Agência Brasil

O crescente número de casos confirmados de coronavírus no Brasil e a escassez de estudos amplos sobre a doença, que é muito recente e se espalha com velocidade, têm causado insegurança a gestantes e pais de crianças pequenas. Será que a gravidez deixa as mulheres mais suscetíveis ao vírus? Há casos de transmissão para o bebê durante a gestação ou o parto? E a amamentação por uma mãe infectada, pode ser um risco?

CRESCER consultou guias internacionais e ouviu o infectologista Francisco Ivanildo, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, para responder a essas e outras perguntas, a partir do que já se sabe sobre o coronavírus. Veja:

Gestação e o coronavírus

Um guia divulgado esta semana pelo Colégio Real de Obstetrícia e Ginecologia do Reino Unido aponta que as mulheres grávidas não parecem ser mais suscetíveis às consequências do coronavírus do que a população em geral. Também não há evidências de que o vírus possa passar para o bebê durante a gravidez.

Já o CDC, agência norte-americana de controle e prevenção de doenças, discorda. Para especialidades da entidade, mulheres grávidas correm maior risco de infecção e doenças graves devido a alterações fisiológicas e imunológicas em seus corpos. E embora os dados sobre o Covid-19 ainda sejam limitados, elas devem ser consideradas um grupo de risco.

Ainda segundo o CDC, já foram relatadas perdas gestacionais de mulheres infectadas com outros tipos de coronavírus, mas não é possível dizer que há o mesmo risco para infectadas pelo Covid-19. Na China, há ainda relatos de partos prematuros em mulheres com Covid-19, mas também não é possível dizer se os partos foram espontâneos ou indicados como forma de precaução.

“A divergência de recomendações reflete uma diferença no olhar dessas duas escolas, tendo o Reino Unido uma tradição de atendimento mais desmedicalizado e os Estados Unidos o oposto. Não existe certo e errado. Não há estudos comparativos ainda e os guias são baseados na opinião de especialistas”, explica Francisco.

O especialista, no entanto, sugere o aumento da precaução durante a gravidez. “O fato a que precisamos ficar atentos é o de que, apesar de não ter evidência suficiente sobre essa epidemia, a condição da gestante é sempre uma preocupação. A gravidez, seja pelas alterações metabólicas ou hormonais, ou pela restrição mecânica do aparelho respiratório, por conta do crescimento da barriga, coloca as mulheres em um grupo que adquire formas mais graves de doenças respiratórias quando é infectado. Não há certeza se isso ocorre com o coronavírus, mas é importante aumentar a precaução”, diz.

Cuidados com o recém-nascido

O risco para bebês nascidos de mães infectadas com o coronavírus também divide opiniões. Para a equipe do CDC, eles devem ser isolados assim que nascem, a fim de evitar transmissão. A mesma recomendação é citada na literatura chinesa, que sugere o isolamento por 14 dias.

Já para a instituição britânica, como não há evidências suficientes sobre os benefícios da separação de rotina, e ela pode prejudicar o vínculo entre mãe e bebê e a amamentação, cada caso deve ser analisado em suas particularidades.

Oliveira Junior, infectologista e gerente de qualidade do Hospital Infantil Sabará, destaca que há registro de apenas de dois casos no mundo de bebês diagnosticados com coronavírus, um detectado 30 horas depois do parto, na China, e outro, nos minutos seguintes, em Londres. “É muito provável que o contágio tenha ocorrido após o parto, via respiratória”, explica.

Segundo o infectologista, no caso de uma grávida cujo exame para coronavírus deu positivo, é possível que haja contaminação do bebê durante o parto normal, devido às secreções normais do processo, e durante a cesárea, por via respiratória. “Ainda não temos evidência suficiente para fazer a escolha da via de parto baseado no que pode ter mais ou menos risco”.

O consenso, porém, é que todos os bebês de mulheres com suspeita ou confirmação de Convid-19 também precisam ser testados.

Amamentação

Não há evidências de que o vírus possa ser transmitido pelo leite materno. Portanto, para a escola do Reino Unido, os benefícios da amamentação superam os riscos potenciais de transmissão do coronavírus entre mãe e bebê, desde que tomados cuidados como o uso de máscara pela mãe e a correta higienização das mãos.

Já para a entidade norte-americana, devido ao contato próximo com a mãe, o aleitamento materno direto deve ser evitado. Neste caso, a recomendação é a ordenha do leite – seguindo todas as orientações de higiene e também com uso de máscara pela mãe – e a oferta por uma pessoa não infectada.

“A OMS, por meio da Unicef, sugere que o aleitamento materno seja mantido, com todos os cuidados, claro, como o uso da máscara pela mãe e a higiene frequente das mãos. O benefício de você amamentar a criança é tão grande que vale a pena correr o risco considerado habitual, já que não há evidência concreta de casos em que houve contaminação”, ressalta Oliveira Junior.

Contaminação em crianças

De acordo com a Academia Americana de Pediatria, o coronavírus parece afetar crianças a taxas mais baixas do que os adultos, e aquelas que contraem o vírus geralmente apresentam sintomas leves. Ainda assim, em Israel, um bebê de 6 meses foi confirmado nos últimos dias com coronavírus, segundo agências internacionais, e está internado.

No Brasil, apesar de o Ministério da Saúde não divulgar a faixa etária das pessoas confirmadas com a doença, a assessoria de imprensa disse a CRESCER que não há, até o momento, registro de crianças entre os infectados.

Para o CDC, dos EUA, as baixas taxas de infecção entre crianças podem ocorrer porque casos mais leves não chegam a ser relatados. As crianças também são menos expostas a viagens, e o ambiente de trabalho dos adultos é outro fator que favorece a contaminação. As crianças são geralmente expostas em casa.

Vale destacar que crianças com sintomas leves também podem transmitir o vírus a outras pessoas, e há relatos inclusive de transmissão assintomática.

Como a transmissão do coronavírus ocorre principalmente por gotículas respiratórias, as recomendações para evitar o contágio de crianças são as mesmas da população em geral.

Já para grávidas e bebês pequenos, a regra de ouro é evitar aglomerações. “Independente de coronavírus ou não, a preocupação que temos com relação ao recém-nascido é de reduzir ao máximo a possibilidade de contato com situações de aglomeração, porque algo que pode causar um resfriado simples em qualquer pessoa, em um bebê pequeno pode se agravar. Além disso, é fundamental orientar as visitas sobre a higienização das mãos, e a própria família precisa adotar esse comportamento no dia a dia.”

Como se proteger?

– Lavar as mãos regularmente;

– Cobrir a boca ao tossir e espirrar;

– Ficar em casa se estiverem doentes;

– Evitar contato com pessoas doentes;

– Evitar tocar o rosto.

Fonte: Revista Crescer