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Seminário promovido pelo PSDB-Mulher aponta desafios do novo Quadro Político

O primeiro dia do seminário de capacitação “Os desafios do novo quadro político”, promovido pelo PSDB-Mulher, em parceria com Instituto Teotônio Vilela (ITV) e a fundação Konrad Adenauer (KAS), destinado às deputadas estaduais e federais eleitas e seus assessores, contou com a participação de mais de 50 tucanas. O atual panorama político, o significado da democracia e a importância dos valores éticos para a reconstrução da imagem política no Brasil foram os principais temas discutidos no dia.

O cientista político da FGV-SP, Vitor Oliveira, fez parte do primeiro painel do evento e fez uma análise do panorama político atual. Ele chamou a atenção para as particularidades das eleições de 2018, que pela primeira vez desde 1994, não apresentou um cenário com a polarização entre o PSDB e PT e foi marcada pela renovação nos quadros do Legislativo.

Vitor Oliveira também destacou a importância da construção de uma candidatura dentro de um partido fortalecido ao traçou um perfil do novo governo do país e salientou a fragilidade da legenda que abriga o presidente da República. “O quão frágil é o partido que ocupa a presidência da República. Os demais partidos estão o esmagando”, disse.

O cientista político ainda pontuou dificuldades que o presidente da República, Jair Bolsonaro, pode enfrentar por não estruturar o seu governo baseado numa política de coalizão. Segundo ele, quanto maior a base de apoio formada por outros partidos, menor a chance do governo dá errado.

“O Executivo precisa montar uma coalizão para conseguir governar. E agora aumentou ainda mais essa necessidade. Os Ministérios foram montados de costas para os partidos do país. Uma realidade diferente do que acontecia”, explicou ao alertar que esta estratégia pode ser problemática: “A tendência de gerar crise política é maior, analisando esses valores”.

Vitor chamou atenção ainda para a forte presença das Forças Armadas no atual governo e fez um rápido comentário sobre a primeira baixa na Esplanada, após crise entre o presidente Bolsonaro e o ex-ministro da Secretaria- Geral Gustavo Bebianno.

“A gente percebe uma certa irresponsabilidade do Bolsonaro diante ao que está acontecendo. Essa influência transversal da família não é saudável e não sabemos até onde vai”, pontuou.

A percepção da democracia no Brasil

Logo em seguida a doutora em ciências políticas pela USP e consultora do Banco Mundial, Graziella Guiotti falou a percepção da democracia no Brasil e os desafios representativos. Durante a palestra, a doutora apresentou o diagnóstico Latinobarómetro que mostra o nível de satisfação da população com a democracia, a economia e dos serviços básicos oferecidos pelo país à sociedade.

O levantamento é realizado anualmente e é baseado em cerca de 20.000 entrevistas realizadas em 18 países da América Latina, representando mais de 600 milhões de habitantes.

Um dos aspectos do estudo apresentados as parlamentares, que as deixaram mais estarrecidas, foi o nível de confiança que os brasileiros afirmam ter na democracia do país. Apenas 9% da população declarou ter confiança e estar satisfeita com a democracia no Brasil, três percentuais abaixo do nível de satisfação dos venezuelanos, que é de 12%, sobre o mesmo aspecto.

“É um índice preocupante e caiu vertiginosamente nos últimos anos. Em 2010, 49% diziam estar muito satisfeitos com a democracia”, destacou a Graziella.

Ela mostrou ainda a insatisfação dos brasileiros com a economia e com os serviços essenciais oferecidos pelos governantes.

“O problema mais grave colocado foi a saúde. 21% da população colocou como o principal problema”, contou.

A doutora em ciências políticas alertou também para a queda no nível de confiança nas instituições. Para ela, os resultados das eleições de 2018 se deram devido à crise de descrédito que os partidos políticos enfrentam junto a população.

“O Brasil é o país que menos acredita em partidos políticos. A gente precisa entender o recado dado nas urnas. A última eleição corou um processo que já estava acontecendo e ninguém estava prestando a atenção. Precisamos saber se essas pessoas sabem o que realmente querem”, frisou.

De acordo com o Latinobárometro, apenas 6% da população ainda confia nas legendas partidárias. 59% considera que não pode confiar em nenhum ou quase nenhum parlamentar. Graziella Guotti destacou a importância dos partidos políticos para a condução de um bom plano para o país. Ela ainda sugeriu que as legendas repensem a sua relação com o eleitor e reestruture a base.

“Bolsonaro fala que vai governar sozinho para se descolar da imagem do parlamento que está em descrédito, mas ele sabe que não vai conseguir governar sozinho. O descrédito nos partidos, é ruim do ponto de vista de políticas públicas e do ponto de vista ideológico. É preciso mudar essa realidade”, aconselhou.

E para mudar esse quadro, a doutora aposta no uso das redes sociais de forma consciente e propositiva.

“Existe um grande potencial não utilizado nas redes sociais. Os usuários de redes sociais tem mais confiança na democracia que aqueles que não usam as redes. 58% das pessoas acham que a crise vai melhorar. Isso é um bom sinal se souber ser bem apresentado”, disse ao apontar que só 27% dos brasileiros não utilizam nenhuma rede social.

Graziella deu como dicas aprofundar a transparência e a prestação de contas aos eleitores por meio direto das redes sociais; além de ajudar a população a entender o funcionamento do processo legislativo e da atuação coletiva e individual no parlamento.

Reportagem Shirley Loiola