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Ex-assessores presidenciais dizem que uso de redes por Bolsonaro não basta no governo

Marcos Corrêa/Presidência da República

O jornal Folha de S.Paulo ouviu seis ex-porta-vozes e secretários de Comunicação, dos governos José Sarney (1985-90), Fernando Collor (1990-92), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Lula (2003-10), Dilma Rousseff (2011-16) e Michel Temer (2016-18) sobre a tática usada pelo presidente Jair Bolsonaro de se comunicar por redes sociais. Segundo o jornal, todos elogiam o caráter inovador do uso de redes por Bolsonaro, mas acreditam que para governar, é preciso mais do que uma overdose de tuítes.

Bolsonaro tem repetido o que fez durante a campanha, agora no Planalto, dispensando o assessor de imprensa. Embora diga que nomeará alguém para a área, ele também dispensou porta-voz. As consequências apareceram já no quarto dia de governo, quando anunciou aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e mudanças no Imposto de Renda e logo após foi contraditado por subordinados.

A reportagem da Folha contou que Fernando Henrique Cardoso recorreu a diplomatas para serem seus porta-vozes durante seus oito anos no Planalto. Um deles, o embaixador Georges Lamazière, entusiasta do modelo tradicional de comunicação presidencial. “A monotonia dos briefings diários e dos comunicados de imprensa permite ao governo transmitir melhor o que acha importante do que vários quebra-queixos simultâneos de múltiplas autoridades. O tédio é preferível à confusão”, disse.

Para Georges, também não se deve superestimar o poder de um porta-voz no bom funcionamento de um governo. “A mera criação do cargo de porta-voz e a nomeação de alguém com boas qualidades para exercê-lo não evita a cacofonia, se num governo ministros pensam diferente e falam sem coordenação prévia, sem sintonia”, diz.

A folha listou dez conselhos de ex-assessores de comunicação, veja abaixo:

1 – Campanha é campanha, governo é governo (e vice-versa). A comunicação de um momento não serve para o outro;

2 – Cuidado com as entrevistas improvisadas, os chamados “quebra-queixos”, cercado por repórteres. É quando o presidente está mais propenso a cometer deslizes;

3 – Recuos e bateção de cabeça são normais num governo; o que não pode ocorrer é a confusão prosperar por horas e se transformar numa crise;

4 – A proximidade do assessor de comunicação com o presidente é fundamental; é preciso ter liberdade para entrar na sala dele sem ser anunciado.

5 – Também é essencial conhecer a cabeça do presidente e saber de a A a Z o que ele pensa sobre tudo.

6 – Redes sociais são indispensáveis, mas não se pode cair no erro de ignorar a mídia tradicional, que segue influenciando a agenda política.

7 – Presidentes são seres indomáveis, que fazem o que querem, saem do script e ignoram discursos preparados; é preciso estar pronto para mudar todo o planejamento e o discurso oficial de uma hora para a outra.

8 – Ministro só deve falar sobre sua área de atuação; invadir a competência alheia gera ciumeira e ruído.

9 – Porta-voz não serve apenas para portar a voz, mas também para antecipar problemas e uniformizar o discurso do governo; e para apanhar em nome do presidente e servir de bode expiatório, caso seja necessário.

10 – Não deixe o presidente agir com o fígado contra a imprensa; romper relações com algum órgão ou jornalista, só em último caso.

*Com informações do Jornal Folha de S. Paulo