Opinião

“Copa do Mundo é palco da subcultura machista”, por Cristina Lopes

A Copa do Mundo acabou, e o país do futebol fez gol contra ao divulgar vídeos machistas e misóginos. Mulheres foram constrangidas ao repetirem palavras ofensivas, de cunho pejorativo em idiomas que não conhecem. Como ser humano repudio veementemente qualquer tipo de ofensa ou prática discriminatória. Humilhar publicamente a honra e a dignidade de qualquer pessoa é crime de injúria, previsto no artigo 140 Código Penal.

Os vídeos postados nas redes sociais por grupos de torcedores brasileiros, durante esta Copa, na Rússia, revelaram ao mundo não só cenas grotescas e vergonhosas, como, e principalmente, a subcultura machista e perversa, que nós mulheres ainda somos obrigadas a presenciar diariamente. A forma natural com a qual esses homens desrespeitaram essas estrangeiras, divertindo-se às gargalhadas, pulando e cantando um coro vexatório, é mais uma demostração de que nossa sociedade está doente e debilitada.

Além do machismo alarmante, o que causa asco e vergonha é a violência moral, cometida por homens que deveriam saber os limites de seus atos, dentre eles, engenheiro, advogado, policial militar e outras profissões ditas respeitáveis.
Em um momento de alegria e diversão, dissimularam o escárnio, o abuso e a agressão contra as mulheres. Quando pessoas se divertem às custas do sofrimento do outro, Isso não é brincadeira, nem mesmo de mau gosto. É mais uma cena de perversidade, que retroalimenta a violência contra a mulher.

A opressão e o constrangimento sexual são parte da vida das mulheres e as atinge em todas as idades e locais. É responsabilidade de todos nós coibir práticas que exponham desrespeitosamente as mulheres e as transformem em objeto. É impedir a “coisificação” do ser humano, reduzindo o corpo da mulher a um órgão sexual.

Esses abusos foram covardes e humilhantes, atingindo as mulheres de todas as nações. É preciso reforçar políticas públicas e institucionais para combater a misoginia, adotando práticas de igualdade e respeito. Estamos todas indignadas e envergonhadas. Fomos todas assediadas, agredidas, constrangidas e humilhadas. Fomos obrigadas a passar por mais esse papelão.

Outro exemplo de machismo aconteceu recentemente, após o jogo entre Japão e Colômbia, quando um colombiano foi filmado pedindo que duas japonesas repetissem o placar da partida e, em seguida, palavras ofensivas a si mesmas. Argentinos já tinham feito coisa parecida com mulheres de outras nacionalidades, ensinando-as a repetirem palavras em espanhol que claramente não entendem, e que também fazem referência a uma prática sexual.

Não há desculpas. Seja porque bebeu em excesso, seja porque o momento era de brincadeira e festa. Não! Ninguém pode se eximir de seus erros. Apesar desses episódios desprezíveis, um ponto positivo, foi que esses atos desnudaram para o mundo, o porquê que as mulheres têm razão em lutar contra o machismo e uma realidade de estupros e feminicídios. O crime que não punido é permitido.

Vivemos na pele uma realidade de estupros e feminicídios, que muitos homens, e mais assustador ainda, algumas mulheres, aceitam como normal. Muitos homens não se reconhecem como privilegiados e não acreditam que as lutas feministas tenham qualquer coisa a ver com suas vidas.       Aqui, tomo emprestada a ideia de gênero de Judith Butler: um agir constante, que implica discursos, gestos, trejeitos, como algo nunca pronto e acabado; que necessita ser reafirmado e marcado o tempo todo, no falar, no fazer e no sentir, sendo que isto se apresenta independentemente de gênero e orientação sexual.

O machismo está nas entrelinhas. Naquilo que nem sempre parece óbvio. Surge dissimulado em brincadeiras e piadas. Arrastam milhares de mulheres aos caminhos do silêncio, da vergonha e da baixa estima. Que o repúdio das mulheres do Brasil e do mundo tenha um caráter educativo para esses homens e que a solidariedade coletiva feminina tranquilize e alivie o coração de nossas irmãs estrangeiras.

Cristina Lopes é vereadora pelo PSDB, presidente da Comissão da Pessoa com Deficiência da Câmara de Goiânia e fisioterapeuta especialista no tratamento de queimaduras.