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Mulheres trocam experiências e buscam espaço em mercado de tecnologia

Carolina Gonçalves/Agência Brasil

Em meio a dezenas de meninos, Ana Paula Rocha, de 15 anos, e Lívia Damião Vieira, de 14 anos, chamavam atenção de quem passava para acompanhar uma das primeiras disputas de robótica do segundo dia da Olimpíada do Conhecimento que ocorreu nos dias 7 e 8 de julho, em Brasília. Não apenas por serem as únicas mulheres, mas pela desenvoltura no manejo dos robôs criados para facilitar a dinâmica nos portos, como atracagem de navios e estacionamento de contêineres.

A cena reflete a realidade do mercado de trabalho quando se trata de áreas voltadas para tecnologia, engenharia, ciência e matemática, ainda apontadas como atividades masculinas. Mas, caminhar pelos mais de 25 mil metros quadrados do local onde ocorre o evento pode mudar essa percepção.

“Sou mais da área de exatas e sempre gostei de robôs. Meu primeiro contato foi na escola, no 4º ano [do ensino fundamental], quando integrei uma equipe que tinha que montar um robô”, disse a estudante Ana Paula, de Vilhena, no estado de Rondônia. De uma turma de 18 componentes, em que seis são mulheres, ela não hesita em declarar: “Somos nós que comandamos [os projetos]. Tem muita oportunidade nessa área. A chance existe, só depende da gente aproveitar”, afirmou.

O que ocorre é que esta visão nem sempre é compartilhada por outras alunas. Lívia Damião Vieira, sua parceira no projeto apresentado hoje, admite que deve optar por uma profissão da área de humanas. “Falta coragem. É muito difícil você ser a única. São poucas as mulheres que vemos neste meio de trabalho. ”

Autora de um estudo que avaliou exatamente a questão da presença feminina nesses campos de atuação, a especialista da Seção de Educação para a Inclusão e Igualdade de Gênero da Unesco Theophania Chavatzia explicou que ainda há uma série de fatores que ilustra a atual situação desse mercado. Além de elementos culturais presentes tanto nas escolas quanto nas famílias – que insistem em apontar essas áreas como dominantes dos meninos –, a falta de identidade também tem peso relevante.

“Elas não veem pessoas que se destacam nessas carreiras que sejam mulheres, isso tanto na mídia quanto na escola. As meninas tendem a acreditar que elas não são tão boas quanto os meninos. São estereótipos. Tendem a acreditar que são melhores em humanidades, por exemplo, e que não são boas em ciências ou que não são tão boas quanto os homens. Tendem a assimilar esse estereótipo e a ficar longe”, explicou, ao destacar isso é reflexo da socialização.

 

Gerente executivo de Educação Profissional do Senai Nacional, Felipe Morgado acredita que essa realidade já está mudando. Segundo ele, o aumento da participação das mulheres nesse mercado pode ser confirmado em números. Morgado afirmou que, entre as matrículas de cursos profissionalizantes para a indústria, metade dos inscritos é formada por mulheres.

“É uma prioridade e é necessária para a quarta revolução industrial a participação das mulheres. Isso não é só o Senai que está dizendo, são organismos internacionais como a Unesco. Essa participação vem aumentando. Na impressora 3D de cimento [um dos projetos expostos no evento], que por exemplo, foi desenvolvida para a construção civil, tem mulheres na equipe. Muitas vezes, as mulheres têm visão mais ampla e conseguem contribuir mais nessas inovações”, disse.

*Da EBC