Notícias

Mulheres pedem ações afirmativas e gestão profissional no futebol feminino

Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Em clima de Copa do Mundo, mulheres cobraram respeito, patrocínio, estrutura de base, ações afirmativas e gestão profissional no futebol feminino. O apoio a essa modalidade esportiva foi debatido nesta quinta-feira (5) em audiência pública da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados.

O debate reuniu atletas, dirigentes e representantes dos movimentos Deixa Ela Trabalhar e Mulheres de Arquibancadas, que relataram falta de respeito às mulheres dentro e fora dos gramados.

Apesar de conquistas recentes, o futebol feminino ainda é marcado por preconceitos, baixos salários e reduzido investimento, sobretudo na formação de atletas. O principal patrocinador do futebol feminino no Brasil é a Caixa Econômica Federal. Neste ano, no entanto, o banco reduziu o aporte de recursos devido ao corte de 35% em seu orçamento.

Os organizadores de competições nacionais ainda buscam alternativas de patrocínio e programaram reuniões com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o Ministério do Esporte, depois da Copa da Rússia.

Para Alfredo Carvalho Filho, dono de uma empresa promotora de campeonatos (Sport Promotion), o Brasil ainda sofre de “miopia de marketing”, por não enxergar o potencial do futebol feminino. Segundo ele, a Caixa investiu R$ 10 milhões nos últimos quatro campeonatos brasileiros e teve retorno de R$ 107 milhões com a exposição da marca.

Cidadania

Ex-zagueira e capitã da seleção brasileira e atual dirigente da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino afirmou que parte do problema é cultural e que o futebol feminino pode ser um instrumento de transformação cidadã.

“A gente tem essa arma na mão para tentar melhorar uma sociedade enquanto espaço de homens e mulheres. A sociedade foi sempre pré-definida e a gente sabe o quão mal isso faz para as mulheres: desde violência, assédio e uma série de fatores que não adianta a gente achar que é ‘mimimi’. Antigamente, as coisas aconteciam de forma natural e ninguém falava nada. Hoje não cabe mais isso”, afirmou.

Aline defendeu a união de instituições que atuam na área para superar burocracias que travam o desenvolvimento do futebol feminino. Também citou o exemplo dos Estados Unidos, onde o investimento no esporte é dividido, meio a meio, entre as modalidades masculinas e femininas. Segundo Aline, a Lei do Profut (Lei 13.155/15), que permite o refinanciamento das dívidas de clubes de futebol, prevê contrapartidas de apoio ao futebol feminino que não vêm sendo cumpridas.

Assédio

Vítima de assédio em estádios e idealizadora do movimento Deixa Ela Trabalhar, a jornalista Bruna Dealtry se queixou que o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/03) ainda é muito vago quanto à repressão à violência contra as mulheres. Tanto na prática quanto na cobertura do esporte, Bruna sintetizou a necessidade de mudança cultural.

“Não queríamos passar a ideia de vítimas ou criar uma rivalidade entre homens e mulheres. Não é por aí, até porque todos fomos criados em uma sociedade machista. No começo das mulheres no jornalismo esportivo, elas entravam muito pelo padrão de beleza. Mas hoje em dia, não: a gente tem que ter conteúdo e a gente está aqui para fazer a diferença também, contando a história da nossa maneira”, disse Bruna.

Na Copa da Rússia, apenas 14% dos jornalistas são mulheres e muitas já foram vítimas de assédio durante o trabalho. Representante do movimento Mulheres de Arquibancadas, Carla Ambrósio repudiou o papel de “musas” para as mulheres e afirmou que o machismo não pode impedir a consolidação da presença feminina no contexto futebolístico.

*Da Agência Câmara